César Menotti e Fabiano falam sobre o novo trabalho, declarações polêmicas e da perda do pai
André Piunti
César Menotti e Fabiano divulgam, atualmente, um novo trabalho. Gravado no Rio de Janeiro no ano passado e lançado no início de 2013, o CD e DVD “Ao Vivo no Morro da Urca” parece conseguir trazer de volta a “cara” dos irmãos, revelada naquele primeiro DVD feito em Belo Horizonte.
O novo projeto demorou a sair, foram quase dois anos sem lançamentos, e o principal motivo, como já era sabido, foi o falecimento do pai da dupla, Toninho do Ouro, em 2011, principal incentivador da carreira dos irmãos.
Como já falei do trabalho algumas vezes por aqui, conversei com a dupla ontem sobre diversos assuntos, e saíram algumas declarações interessantes.
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É praticamente unânime a impressão de que o novo DVD lembra bastante o primeiro, aquele que estourou, gravado em BH. Foi intencional?
César: Não tivemos a ideia de lembrá-lo não, mas eu também acho que lembrou. Esse trabalho novo é nossa verdade, nossa cara, que muitas vezes não ficou clara em outros trabalhos, talvez por a gente ter errado mesmo. Por ter nossa cara é que eu acho que ele lembra o primeiro, que marcou nossa identidade.
Como vocês veem a situação da dupla hoje? Qual o tamanho de vocês?
Fabiano: Nós somos uma dupla de praticamente 10 anos de história que segue batalhando como qualquer outra pra estar entre os principais. Muita coisa mudou desde que a gente estourou. Quando a gente apareceu, tinha 2 ou 3 duplas disputando com a gente TV, rádio, composição. Hoje tem 20, 30. Nós conseguimos fazer uma imagem muito forte quando estouramos, e isso acabou ajudando muito. Fazemos shows em uma semana no Sul, depois viajamos pro Norte, e a recepção é a mesma, além de termos um espaço muito bom na TV. Apesar disso, independentemente do que a gente conquistou, a gente não pode parar ou tirar o pé. Só assim pra um artista conseguir se manter, e isso serve pra gente também, claro.
Mas nos últimos dois anos o andamento na carreira não foi o mesmo, né?
Fabiano: Então, nessa nossa história, a perda do nosso pai foi um momento complicado pra carreira, e a a gente ficou praticamente dois anos sem lançar nada. Nós até tentamos fazer alguma coisa, mas não dava, a gente não deu conta.
De que forma a perda dele impactou na carreira de vocês?
Fabiano: Nosso pai foi o idealizador de tudo, ele que sonhou tudo isso pra gente. Não tinha uma decisão que a gente tomava sem falar como ele, eu falava duas, três, até dez vezes por dia com ele. A perda dele arrebentou comigo, arrebentou com a família inteira. Psicologicamente nós chegamos no fundo o poço, chegamos a fazer show na marra, por conta de compromisso mesmo, mas não tinha nenhuma vontade. Foi muito complicado, demorou passar, mas o tempo vai curando. Claro que não cura tudo, mas a gente conseguiu voltar ao normal.
Vocês não são de fugir de perguntas, falam sobre assuntos polêmicos, mas nunca tiveram uma resposta que repercutiu contra vocês. Durante a semana, rendeu muito uma declaração que a Joelma deu comparando gays a drogados, e o resultado foi prejudicial a ela…
César: Não falo exatamente desse caso específico porque eu não li as declarações, vi só a repercussão, mas sei que andam dizendo que não foi bem aquilo que ela disse. Enfim, de uma forma geral, o artista não pode falar tudo o que quer sem pensar. Eu respondo sempre sobre qualquer assunto, mas não posso ser negligente. De certa forma, por ser uma pessoa pública, o artista tem de ser mais político nas declarações. Não é deixar de responder, mas ter consciência do que a declaração dele pode gerar.
Fabiano: A gente nunca foi de entrar em polêmica, mesmo não deixando de responder pergunta sobre nada. O problema de entrar em discussão polêmica é que nem todo mundo interpreta aquilo do jeito que você quis dizer. Você fala, o jornalista tem um jeito de interpretar, e os leitores interpretam de mil formas diferentes. Aí pode chegar uma hora em que uma declaração sua vira contra você sendo que você nem quis dizer aquilo. Então a gente procura ter mais cuidado sim na hora de falar.
Vem surgindo polêmica atrás de polêmica envolvendo religião e intolerância, e bíblia acaba sendo citada como referência e o nome de Deus usado nessas situações. Vocês são a dupla que mais falam de Deus nas músicas e no palco. Como veem a situação?
César: As pessoas estão confundindo as coisas. Eu não me preocupo com religião, tenho essa situação muito clara pra mim. Sou avesso a religiosidade, a religiosidade exclui, a gente vê isso todo dia. Deus inclui. Eu me relaciono com Deus, com Jesus Cristo.
César, diferentemente da maioria dos artistas, você tem preferido não criticar a recente onda de músicas ruins lançadas, cheias de besteira, sem conteúdo, que nada acrescentam pra música sertaneja. Logo você, que as pessoas sabem que é um cara formado a base de música caipira. Por que essa posição?
César: Eu não critico. Não critico mesmo, porque sei que, de repente, aquela música mudou a vida do cara, mudou a vida da família dele. Muitas vezes o cara cantou 10 anos músicas boas na noite, decidiu gravar uma bagaceira e fez sucesso. Como eu vou julgar? Por isso não critico.
Claro, me preocupa sim o que esse tipo de música pode causar mais pro futuro. Daqui a pouco, a gente vai ouvir alguém dizendo que não gosta de música sertaneja e a gente não vai poder dizer nada. A gente vai dar até razão.