O sertanejo de lá e o sertanejo de cá
André Piunti
O jornalismo cultural sempre foi muito distante da música sertaneja, mas talvez só com o crescimento da internet é que esse abismo tenha começado a incomodar os veículos, já que os internautas criticam qualquer tipo de deslize.
O exemplo mais recente, que gerou reações irônicas inclusive de artistas, foi o “Profissão Repórter” que abordou o mundo sertanejo, acompanhando a rotina de Luan Santana.
Para o programa, para a maior parte dos jornalistas e para algumas poucas partes do Brasil, o sertanejo hoje é “Luan Santana e o resto”.
Na Folha, no último sábado, o texto de apresentação do “Sertanejo Pop Festival” dizia: “Apesar de não contar com o fenômeno Luan Santana, como em 2010, o line-up traz nomes como a dupla Jorge & Mateus…”
Falar de Luan Santana é mais do que obrigatório, afinal seu sucesso é incontestável, e sua presença na mídia é superior a qualquer artista nacional. O grande problema reside em falar de música sertaneja tomando Luan como ponto de partida.
Como ele não é apenas um produto sertanejo – sua força com o público teen é o que o diferencia dos demais artistas -, usá-lo como base de explicação para o que acontece atualmente na música sertaneja é um grande passo para a compreensão errada da situação, já que sua realidade é muito além da realidade padrão dos artistas sertanejos de sucesso.
As duplas de sucesso mais recente têm sua boa parcela de culpa, pois grande parte delas não se preocupa com mídia como deveria (vide o tamanho de Jorge e Mateus no meio e conte nos dedos as vezes em que eles se apresentaram na televisão). No entanto, mesmo com essa parcela de culpa, é obrigação do jornalista pesquisar o assunto antes de abordá-lo.
A “surpresa” da mídia com o sucesso dessa nova geração (e com o de Luan) é o maior indício do quão afastada ela está do meio sertanejo, que promove “fenômenos” financeiros e de público desde os anos 1980.
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Aproveitando o assunto mídia x música sertaneja, vale o registro de um assunto que virou troça no final de semana, que pode ser até ser tratado como descaso, se o crítico for dos mais ferrenhos. Na transmissão realizada pela internet do “Sertanejo Pop Festival”, a dupla Guilherme e Santiago foi chamada de Cristiano e Ronaldo (?), e Crisitano Araújo (segundo colocado da Garagem) virou Cristiano Lima. As repórteres da transmissão eram dançarinas do “Domingão”.