Entrevista: Paula Fernandes, empresária.
André Piunti
Paula Fernandes recebeu a imprensa, no final do mês passado, pra falar de seu novo projeto: o CD/DVD “Um ser amor”, lançado com a assinatura do Multishow.
Muito do que ela falou por lá já pôde ser lido por aí, do fato de o trabalho ser mais uma vez autoral até a história de que “Um ser amor” foi composta, segundo a própria, a um ex-namorado que a fez sofrer.
Logo que começamos a entrevista, ela citou o termo “empresária”, referindo-se ao fato de comandar a própria carreira. Era um assunto, como foi possível confirmar na coletiva logo depois, que ela pretendia abordar.
Foi nesse ponto que foquei a conversa, e então saiu uma revelação que serve a muitos que estão procurando ajuda e espaço: está nos planos dela, sim, ajudar artistas novos em seu escritório.
Pela primeira vez depois de chegar ao topo, Paula lança um trabalho sozinha. Com todo o amparo da Universal Music, claro, mas somente com seu próprio escritório por trás, o “Jeito de Mato”. Até o final do ano passado, ela possuía vínculo com a Talismã, da qual se separou após um desenrolar que todos se lembram.
Abaixo, a conversa que tive com ela.
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Por eu ter viajado com você na turnê da África, muita gente me pergunta quem manda na sua carreira. Se você realmente dá a palavra final, se é a gravadora, seu irmão que trabalha com você, se é sua mãe, sempre próxima…
No final das contas, a última palavra é minha. Por eu ser reservada acho que as pessoas têm essa curiosidade. Não é uma questão nem de poder não, é uma responsabilidade. Imagina, eu que dou a cara pra bater, eu que que tô lá na frente, então eu tenho que assumir o que acontece atrás de mim.
Quando acontecem erros, e claro que acontecem, eu posso chegar no profissional responsável e cobrar, porque sei que minha parte eu fiz. Eu tenho alguns braços sim, tenho pessoas que me ajudam, pessoas responsáveis próximas, mas sempre passa por mim. Não é porque eu gosto de mandar não, é porque é minha cara que está lá na frente.
Você tem dito agora que também é empresária, já que a “Jeito de Mato” é o único escritório que responde por você…
Eu tô tentando, tô tentando… (risos)
Empresariar um artista novo é uma intenção?
Eu vou fazer isso, é um plano pra mim. Não vou dizer que estou correndo atrás, procurando, por que acredito que esse não seja o caminho. Eu acredito que vá surgir um nome, eu vou me identificar com o trabalho e a partir daí, vou poder oferecer toda a minha estrutura não pra forçar alguém a fazer sucesso, mas pra poder dividir minhas experiências e assim ajudar. Temos uma estrutura muito boa hoje, não vejo problemas em trazer alguém pra junto de nós.
Você imagina que vão sair procurando você a partir dessa declaração, né?
Mas a gente recebe trabalho sempre, você sabe como é. Como eu te disse, eu não tô correndo atrás, acho que isso vai ter seu momento ainda, e aí quando surgir algo que me encante, eu vou dar mais atenção a esse assunto.
Seu primeiro DVD já tinha uma estrutura grande para o tamanho de artista que você era na época. O novo DVD, mais uma vez, é algo grandioso. Por que a ideia de manter a linha de grande espetáculo e não algo mais intimista, talvez, como outros artistas estão fazendo?
Eu quis que novo trabalho desse continuidade a tudo que eu construí e mostrasse às pessoas o que se passou com a Paula Fernandes desde que aquele primeiro DVD saiu. Você sabe que eu gosto de oferecer um espetáculo que vai além de cantar, gosto de mostrar histórias, tenho as trocas de roupas que marcam mudanças na sequência do show. Eu queria que o DVD fosse fiel ao que eu sou, ao que eu quero oferecer ao público. Foi um desafio, colocamos grama natural no palco, criamos um lago, mas tudo isso vale a pena na intenção de apresentar um espetáculo de qualidade.
Na sua última ida ao Faustão, você pareceu muito natural, muito à vontade. Quem te acompanha, percebeu uma evolução em relação a outras participações…
Minha carreira não foi um produto pensado. Eu sou isso, e acho que as pessoas entenderam, e quem não entendeu ainda, vai entendendo aos poucos. Meu papel hoje é administrar pra que essa naturalidade esteja sempre em primeiro lugar. Eu sou uma pessoa tímida, mas hoje tenho alguma intimidade com o Faustão, temos uma amizade, por isso nas visitas ao programa eu vou ficando mais à vontade.
Eu trabalho 24 horas pra isso, vivo o que eu amo fazer durante o dia todo. O que eu ganho, a questão financeira, fica muito lá atrás. As pessoas tem muita fissura nisso, uma curiosidade em saber quanto você ganha, o que você compra, e não é isso que traz a felicidade. O que me traz felicidade são as realizações, e nem sempre o dinheiro está relacionado a elas. Eu tenho um relacionamento com uma pessoa muito querida, tenho meus amigos, pouco amigos, mas que são de verdade. Estou mais equilibrada, consegui uma maturidade, e isso não é uma questão financeira.
Uma das críticas que você mais deve ter ouvido quando começou a ganhar espaço foi de que seu show era muito lento, muito romântico, muito parado. Você bateu de frente e seguiu sem grandes mudanças…
Eu superei isso, acho que consegui provar que havia um preconceito nessa ideia. É claro que eu ouço críticas e aproveito as que eu vejo que são sinceras, mas acredito que muita gente exagerava. Hoje as trocas de roupa são mais rápidas, e eu ofereço conteúdos enquanto não estou no palco.
Sobre o show ser lento, é só alguém assistir ao meu show atual que vai ver que ele não é lento. Tem minha parte dos modões, parte do forró, eu danço, faço vários estilos diferentes, e claro, também tem a parte romântica. As pessoas tem uma mania de criar personagens. Paula é o show de balada romântica. Ponto, aí todo mundo começa a repetir isso. Eu acreditei no que eu fazia e hoje consegui vencer esse preconceito.
Você não concorda quando dizem que você é artista pra fazer show em teatro?
Claro que não. Artista tem que tocar pra todo tipo de público. Seja em teatro, em feira, rodeio. Eu canto em todos os lugares com o mesmo prazer, não acho que a gente tenha que se limitar dessa forma.
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