A Veja acertou na matéria sobre música sertaneja?
André Piunti
Nesta semana, como comentei dias atrás, chegou às bancas a revista Veja que tem a música sertaneja como principal destaque, matéria de capa, dez páginas falando do mercado.
Antes de a revista sair, já havia quem se adiantasse nas críticas. O que é que a Veja, que nos chama de “breganejos” sempre que pode, entre várias outras coisas, pretende com uma capa sobre o sertanejo?
Não condeno quem tenha pensado assim. Falar mal da Veja é esporte também praticado por mim toda vez que leio coisas do tipo. Mas a matéria da semana, como devem ter reparado os que se dispuseram a ler, não tem nenhuma cutucada, nenhuma tiração de sarro, nenhum adjetivo utilizado com a intenção de desprezar os artistas ou a música em si.
A matéria acertou em um ponto fundamental que eu já havia citado no blog em outras ocasiões: não dá pra falar do nosso meio tendo como ponto de partida um artista. Tantas foram as vezes que se pegou o Luan e, a partir dele, tentou-se explicar o mercado. Não dá. Não existe um padrão, não dá pra explicar um Eduardo Costa, por exemplo, a partir de um Luan Santana. O resultado vai ser sempre uma matéria cheia de buracos, como vimos várias vezes nos últimos anos.
Escolhendo Michel Teló, Fernando e Sorocaba, Zezé di Camargo e Luciano e Bruno e Marrone para explicar a música sertaneja de hoje, o autor da matéria, Sérgio Martins, fez duas coisas interessantes: ignorou por completo o arrocha-funk-axé-moderno que se tenta enfiar na música sertaneja, e decidiu apostar na ideia, defendida pela maioria aqui, de que todo o sucesso atual faz parte de uma história antiga, que teve seu boom nos anos 1990, e que segue crescendo (mesmo alguns não concordando em chamar a música atual de “sertaneja”).
Creio que nem todos estejam de acordo com os artistas escolhidos, no blog mesmo já veio gente comentar inconformada com a ausência de determinado nome, mas o resultado final me pareceu positivo. Quando soube que haveria uma matéria assim, meu principal receio foi o de que as coisas ficassem mal explicadas, e todos os leitores da revista “conhecessem” a música sertaneja de uma forma equivocada. Aí seria algo realmente complicado. Mas a realidade é bem aquilo que está escrito na matéria.
Sobre “comemorar” a matéria, discussão que surgiu nos comentários também, acho que não há problema algum. De certa forma, é mais uma conquista.
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Queria só citar aqui alguns dados publicados na matéria. De acordo com levantamento feito pela “Target Group Index”, 47% dos ouvintes de rádio no Brasil, ouvem música sertaneja. Em São Paulo e no interior, o número sobe para 60%.
Muito interessante também é o caso de Salvador: 45%.