E as duplas também não têm culpa?
André Piunti
Você que gosta de sertanejo, puxe na memória qual foi a última dupla a realmente ‘estourar’ no país.
A resposta geral deve girar em torno de Fernando e Sorocaba, entre 2009 e 2010. E depois?
Já vamos pra quase 3 anos que uma dupla não surge realmente com destaque nacional. Um hitzinho aqui, outro ali, mas nenhuma carreira foi para o topo nos últimos dois anos.
O espaço foi ocupado pelos solo, como já tratado em uma matéria aqui. Depois de Luan, vieram Gusttavo Lima, Paula Fernandes e Michel Teló.
Em meio a diversas ‘acusações’ de que o mercado se fechou e que só entra quem tem muito dinheiro, apontar o dedo para as duplas talvez funcione como um bom exercício de reflexão.
Sim, sem dinheiro é 99% impossível chegar ao topo, mas será que há alguma dupla desconhecida fazendo algo realmente diferente e comercial hoje?
Dezenas lembram Jorge e Mateus, outras dezenas seguem a mesma fórmula de Fernando e Sorocaba, algumas lembram João Bosco e Vinícius…
Além de ser melhor financeiramente investir em um artista solo, por conta da divisão financeira e da maior facilidade em lidar com uma pessoa do que com duas, os cantores solo estão levando vantagem no quesito ‘novidade’. Dos 4 solo citados acima, nenhum lembra o outro. São produtos novos que não se confundem, mais fáceis de vender. E ainda há a boa expectativa sobre o que Cristiano Araújo fará esse ano.
Há artistas cheios de capacidade que não chegam ao nosso conhecimento, mas talento também é conseguir fazer algo diferente e com apelo. Os artistas que estão lá em cima hoje conseguiram se diferenciar entre si, independentemente de se gostar ou não da música que eles fazem.
Além de haver uma série de produtos semelhantes, ainda surgiu recentemente a corrida por músicas-chiclete e por dancinhas do Neymar. Se a lição de casa for feita antes de se gastar dinheiro com uma música, vai se notar que o investimento nesse tipo de coisa não vale a pena, já que os exemplos que deram em nada são infinitamente maiores do que a meia dúzia que deu certo.
Há mercado, sim, pra muita gente, mas duas ou mais duplas semelhantes não vão conseguir ocupar o mesmo espaço. É uma questão até simples, mas que não se resolve com dinheiro.
Talvez o pensamento crítico geral, que vem condenando os empresários como principais culpados por reduzir o mercado a poucos nomes, esteja no rumo errado.