Di Paullo e Paulino: “música triste também deixa as pessoas felizes”
André Piunti
Di Paullo e Paulino, irmãos que gravaram o primeiro disco em 1973, seguem rumo aos 40 anos de carreira mantendo o mesmo estilo que assumiram quando crianças: o canto triste.
O dueto diferenciado e as interpretações melancólicas, inspirados em nomes como Silveira & Silveirinha e Creone & Barrerito, foram adotados com um intuito único: agradar ao pai, fã de música sertaneja.
Com a mais recente ascensão da música sertaneja, eles aproveitaram o embalo e aumentaram, assim como as duplas novatas, o número de shows. Com as atenções voltadas para o sertanejo, os irmãos mantiveram o estilo que os tornou respeitados no meio musical e se tornaram mais respeitados.
No início desse ano, foi anunciada a parceria entre Di Paullo e Paulino e a “Talismã”, escritório do cantor Leonardo, grande amigo pessoal dos cantores. Animados com as metas apresentadas pelo novo escritório, os cantores lançam esse mês “Namorando teu sorriso”, 14º álbum da carreira.
Abaixo, uma conversa com Di Paullo e Paulino.
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A amizade de vocês com o Leonardo sempre foi muito comentada. Por que a parceria com a Talismã não veio antes?
Di Paullo: A gente gente tinha um escritório próprio, mantido por nós, que era responsável por tocar nossa carreira, e nós estávamos satisfeitos com ele. Tanto que no ano passado já tinha surgido uma conversa com a Talismã, mas nós preferimos manter o nosso escritório. Passou um tempo e a gente voltou a conversar com a Talismã, que surgiu com metas mais altas, que dariam uma visibilidade diferente pra gente. Como a gente já conhecia todo mundo de lá, decidimos que seria positivo pra nossa carreira.
O CD novo segue no mesmo estilo dos anteriores? Há alguma diferença para os outros?
Di Paullo: Sempre tem novidades, como novos temas, novas histórias, amores mal resolvidos, declarações apaixonadas e outras coisas do gênero. A gente segue no mesmo estilo, com nossas músicas românticas misturadas com aquelas de bailão, dançantes. Depois que a música country entrou no sertanejo, nós incorporamos algumas coisas ao nosso estilo, acho que isso ajudou muito a gente, sem que isso fugisse da nossa essência. Nesse novo CD, a gente tem a participação do Leonardo na música “O Ladrão“, que é a primeira música de trabalho.
Vocês ganharam um bom espaço na música sertaneja nesses últimos anos. Há alguma relação com a ascensão dessa nova safra de duplas?
Paulino: A gente sempre fez shows, sempre viveu disso. De fato, as festas aumentaram bastante nos últimos anos e abriram espaço pra muita gente. E isso foi bom principalmente por terem dado espaço pra todos os estilos de sertanejo, não ficado só em um. A maioria dos nossos shows sempre foram em pecuárias, rodeios e praças públicas.
As características mais fortes de vocês são o dueto e a maneira triste de cantar? De onde vem esse estilo?
Paulino: Antes de tudo, a gente começou a cantar assim pra agradar nosso pai, fã desse tipo de interpretação. Isso é o que a gente chama como o canto goiano, se você for em Minas, em Goiás, as pessoas vão saber do que se trata se você perguntar sobre o canto goiano.
Essas definições acabam se perdendo um pouco com o tempo, mas quem é do sertanejo conhece bem. Nesse estilo, eu poderia citar o Silveira e Silveirinha, o Gino e Geno, que cantou assim durante muitos anos, e o Creone e Barrerito, antes de formarem o Trio Parada Dura.
Uma historiadora nos disse uma vez que esse jeito triste de cantar vem desde a época dos escravos. Como aqui no Centro-Oeste a influência de música estrangeira demorou demais a chegar, as tradições se mantiveram por muito mais tempo do que em outras regiões do país, então aqui em Goiás, você vai achar ainda muita gente gostando desse tipo de música, que provavelmente vem mesmo dos lamentos da época dos escravos.
Vocês disseram que festas são o principal palco de vocês hoje. As canções muito tristes não vão de encontro ao clima alegre que propõe uma festa?
Di Paullo: Olha, é legal esse assunto. Se você reparar, o ritmo da música muitas vezes não representa aquilo que você quer passar. Às vezes, a pessoa tá sorrindo com uma música agitada, mas no fundo a vida dela não tá legal, ela precisa ouvir uma verdade pra ficar melhor. É por isso que a gente diz que música triste também deixa as pessoas felizes. Muita gente se identifica, desabafa, sente a verdade que a gente está tentando passar. Música é verdade, é isso que toca as pessoas, e não o ritmo mais rápido ou mais devagar que você canta.
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Abaixo, “Namorando teu sorriso”, canção que dá nome ao CD.
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