Otávio Augusto e Gabriel
André Piunti
A presença da dupla aqui no blog é cobrada há tempos, tanto por quem defende a música sertaneja menos comercial, como por artistas renomados que dizem “você conhece os meninos? Fala dos meninos, eles são bons”.
Representantes da autêntica moda de viola dentro da geração mais nova do sertanejo, Otávio Augusto e Gabriel lançam, daqui 10 dias, o novo CD da carreira. Pela primeira vez, no entanto, a dupla pisa em um terreno novo, que vai tirar, de vez, o rótulo de dupla exclusivamente tradicional.
Algumas canções do novo trabalho, como “Teu Universo”, que pode ser ouvida mais abaixo, mostram uma tentativa de adaptação da dupla. Não se trata de nada exagerado, de uma mudança radical, mas o suficiente para que alguns estranhem e, eventualmente, reclamem.
Com um casamento de vozes elogiado pelos mais diversos artistas sertanejos, a dupla traz um CD com três participações: Rick, Gino e Geno e Eduardo Costa.
Conversei, ontem, com o Gabriel, que além de falar do CD, tocou em um assunto pouco tratado: a falta de movimentação dos cantores de música sertaneja tradicional, que impede que o gênero tenha mais destaque. Como a dupla vive essa realidade há 12, anos, vale a pena conferir o que ele fala.
Otávio Augusto tem 32, e Gabriel, 28 anos.
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–É exagero dizer que vocês mudaram de estilo, mas há músicas no novo CD que vocês não gravariam há dois anos, por exemplo…
Na verdade, não teve nada forçado, a gente foi de acordo com a nossa identificação. De forma devagar, a gente foi tentando algum som parecido com o que o mercado vem pedindo. Foi um estudo grande na questão de repertório e arranjos para que nós fizéssemos o que o mercado pede, mas sem perder a nossa identidade.
Temos uma história longa e o respeito de muita gente por tudo que fizemos, então tomamos cuidado para que não pareça que nós estamos abandonando nossas características.
–Vocês foram uma das poucas duplas novas que investiram, tanto tempo quanto dinheiro, em um estilo musical sem abertura no grande mercado. O que esse tempo todo mostrou a vocês?
De fora nem sempre se vê, mas vivendo esse meio, infelizmente a gente percebe que nessa linha de sertanejo tradicional, as pessoas não souberam se desenvolver profissionalmente. Nós temos um mercado sertanejo muito forte hoje, mas as duplas que trabalham com o tradicional não aproveitam pra crescer, pra se fortalecer.
Pra você ter uma ideia, um cachê de 10 mil em um show de dupla de violeiros é cachê top. Tão top que quase ninguém consegue ganhar isso. Lógico que não dá pra querer equiparar com música comercial, mas com algum esforço, daria pra melhorar a situação. Só que há um comodismo que exigiu que a gente se mexa, busque algo diferente.
–Mesmo com essa dificuldade, a música “Mala Amarela” saiu do meio tradicional e se tornou o grande sucesso de vocês, que chegou a tocar nas maiores rádios. Ela não é um sinal de que há um grande interesse nesse estilo?
Muita gente conhece a gente por essa música, ela foi quase um sucesso nacional, mas do ponto de vista profissional e financeiro, colhemos muito pouco. Se fosse uma música de outro estilo, tocando como tocou, nós poderíamos ter ficado bem. Essa é a realidade.
–Com qual estilo você gostaria que sua dupla se tornasse reconhecida?
Eu penso em algo como João Paulo e Daniel, que fazia algo moderno, o romântico da época, mas sempre revezando com as modas de viola. Eles faziam música pro mercado, que fizeram sucesso nas rádios, e o disco trazia várias modas de viola.
–Pra quem vive há 12 anos de um estilo fora do mercado, você acredita que é possível fazer sucesso sem se adaptar a essa atual música sertaneja?
Não dá pra falar que é impossível, mas é muito complicado. Eu acredito que há um público muito grande, hoje, que está sem artista para ouvir, que é o público dos anos 1990 que estourou o sertanejo. Eu acredito que alguém ainda vai surgir e pegar essa parcela de público que não consome o novo sertanejo. O problema é acertar, mas quando alguém acertar esse público, vai se destacar demais. Do pessoal que apareceu nos últimos anos, acho que o Eduardo Costa é quem mais se aproxima desse pessoal que ainda gosta de música romântica, quase brega, bem popular.
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Abaixo, a canção “Teu Universo”, de trabalho, e “Estrada do amor”, gravada ao lado do Eduardo Costa.