Quem vai ficar com a classe C?
André Piunti
Esse mês, pude ler pesquisas encomendadas por duas duplas da nova geração e que estão entre as maiores atualmente.
Um dos aspectos pesquisados resultou em algo que já foi especulado aqui no ano passado: mais de 80% do público consumidor de ambas as duplas, encontram-se nas classes A e B.
O resultado mostra que apesar de toda a força do meio hoje, as classes mais baixas não consomem mais música sertaneja na intensidade de outros tempos.
Com o sucesso atual da música sertaneja e com os altos lucros que ela está dando, é improvável que algum artista ou empresário se preocupe em mexer no rumo de seus negócios, o que é natural. No entanto, aos que ainda buscam um lugar de destaque, a classe C pode ser a grande alternativa.
Dos artistas revelados nos últimos anos, apenas Eduardo Costa tem nesse público seu maiores consumidores. Fruto de seu sertanejo baseado nos anos 1990, época na qual a classe C transformou a música sertaneja em fenômeno cultural. A procura pelo novo DVD do cantor nos camelôs impressiona mais uma vez. Aos curiosos, basta perguntar em uma barraquinha como anda a procura pelo material.
Das poucas duplas da nova geração que têm boa entrada nas classes mais baixas, está César Menotti e Fabiano, muito pelo fato de não terem sua imagem completamente ligada aos jovens. Hoje, são os sertanejos mais procurados para shows de prefeitura, gratuitos, o que faz com que a dupla mantenha sua média de shows, mesmo com seu último disco não tendo a mesma repercussão do anterior.
A ausência da classe C nesse novo movimento sertanejo tem indicativos fáceis de se perceber, como a falta de um programa TV, em rede nacional, sobre música sertaneja, ou com a escolha de duplas de outras gerações, como Bruno e Marrone e Zezé di Camargo e Luciano, para programas no estilo do BBB, mesmo com esses nomes não arrastando multidões atualmente como fazem os novos artistas.
As novelas “Paraíso” e “Araguaia” lançaram trilhas com diversas duplas atuais, mas quando precisaram de canções para usar de destaque, escolheram no estilo “Deus e eu no sertão”.
Olhando o cenário atual de forma mais distanciada, percebe-se que mais cedo ou mais tarde, um movimento visando a massa vai surgir, e provavelmente pelas mãos de gente nova.
Com essa hipótese se concretizando, e as duplas da atualidade mantendo o mercado acelerado da forma em que está, o país se tornará um lugar insuportável para quem não gosta de música sertaneja.