E se as duplas acabassem?
André Piunti
Até o final da década de 1990, um cantor solo fazer sucesso na música sertaneja era missão quase impossível, apesar de sempre existirem exceções para confirmar a regra, como o Sérgio Reis, por exemplo.
Existem algumas histórias – a maioria muito fantasiosa – que explicam o porquê de se cantar música sertaneja em dupla desde o começo da história do gênero.
A que parece mais realista, é a que diz que a prática vem das cantorias de “Folia de Reis”, influência portuguesa na qual se cantava em grupos, então era possível se fazer diversas vozes, e não apenas a primeira voz.
Tanto é que sempre existiram grupos sertanejos, apesar do predomínio das duplas.
Foi só na década de 2000 que houve uma abertura, com o surgimento do Eduardo Costa. Não cito o Leonardo e o Daniel como referências, pelo fato de ambos terem ficado conhecidos quando cantavam ainda em dupla.
Com a música sertaneja mais simplificada a cada década com o intuito de ter um público mais amplo, o casamento de vozes foi tendo sua importância reduzida lentamente, com a segunda voz cada vez mais escondida. O surgimento de artistas solo é uma resposta direta a isso.
Comercialmente falando, Luan Santana é o maior exemplo de que cantar sozinho já é realidade. O iminente sucesso do Gusttavo Lima, se concretizado, virá como um reforço, ainda mais pelo fato de fazer um estilo diferente do Luan.
A aposta da Universal Music em Dablio Moreira, que interpretou Zezé di Camargo no cinema, e da Som Livre, em Adair Cardoso, que tem a música “Que se dane o mundo” na Malhação, também são bons exemplos do que pode vir pela frente.
Se alguém quiser argumentar que eles são cantores “teen” – o que não é verdade -, a resposta está em Edson, ex-Hudson, e no Rick, que se separou do Renner.
Das grandes separações que assistimos até hoje, todas deram errado. A coragem dos dois cantores em separar a dupla e não procurar outro parceiro mostra bem a realidade atual.
Fora o que já foi citado, o número de cantores solo investindo no sertanejo é imensa, quem trabalha no meio e recebe CD’s constantemente sabe que isso que mais do que uma realidade.
Pode ser que a gente chegue a uma situação – isso já pode ser visto em algumas situações -, que a importância de se cantar em dupla seja muito mais pelo fato de que dois rapazes chamam mais a atenção do que um, do que propriamente uma questão musical.
Já que na música sertaneja é possível se denominar década por década desde sua origem, a próxima pode ser a dos cantores solo, o que a transformaria em uma das mais importantes.