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Arquivo : joao carreiro e capataz

Algumas notas
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André Piunti

A culpa

Tem sido espalhada uma ideia de que o destaque do sertanejo hoje causa, assim como nos anos 1990, uma falta de interesse geral em outros estilos musicais, como se esse forte mercado sertanejo atrapalhasse a produção e a divulgação de outros tipos de música.

A afirmação feita pelo Lobão em abril, de que “o Brasil está atolado num cafona, imenso e monomaíaco arraial agro brega”, responsável por fazer o showbiz retroceder, vem recebendo cada vez mais defensores.

Se duas décadas atrás a “acusação” pudesse fazer sentido, dessa vez ela não procede. As gravadoras já não são investidoras como eram, tornaram-se mais parceiras do que qualquer outra coisa. As rádios populares já são líderes desde a década de 1990 (com sertanejo, pagode e afins). Na televisão, não há nenhum programa nacional de música sertaneja.

A falta de interesse do público por outros estilos outrora populares, pode ser fruto de uma crise de criatividade comum a qualquer estilo, assim como a que o sertanejo enfrenta a cada mudança de geração. Colocar a culpa de insucessos em cima de um mercado que não precisou sequer de mídia para se erguer, soa como uma forma de encobrir maiores defeitos.

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João Carreiro e Capataz

A dupla está preparando um CD de música raiz, projeto que já vem sendo pensado desde o ano passado. João Carreiro tem diversas modas de viola compostas, algumas até bastante extensas, que sempre ficaram de fora de seus discos por uma questão de mercado.

O cantor chegou até a cogitar a possibilidade de gravar essas modas e disponibilizar na internet sem compromisso. No entanto, o projeto do CD acabou ganhando força e a dupla vai poder mostrar melhor esse seu lado ligado ao sertanejo mais tradicional.

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E o Blu-ray?

O UOL Tecnologia listou uma série de tecnologias que devem ficar para trás em pouco tempo. Uma delas é o blu-ray, já utilizado por alguns sertanejos, e que não conseguiu se tornar popular pelo menos até agora, principalmente pelo fato de custar muito caro. De acordo com a reportagem, o blu-ray deve ficar para trás por conta do rápido avanço dos vídeos em alta qualidade na internet.

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ECAD

No último sábado, o jornal “O Globo” apresentou uma série de irregularidades cometidas dentro do  ECAD, entidade responsável pelo recolhimento e repasse de direitos autorais, que vão desde fraude nos vale-refeições, emitidos em nome de funcionários já demitidos, até utilização de dinheiro de crédito retido para sanar o déficit do escritório. Na semana passada, o Senado aprovou uma CPI para investigar o caso “Milton Coitinho dos Santos”, falso compositor que recebeu R$ 127 mil de direitos autorais.


“Sou Fod*” sertanejo
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André Piunti

A canção “Sou F…”, que tem sido tocada em rodeios nas vozes das mais diversas duplas, é um funk adaptado, como já dito aqui no blog.

Feito pelos “Avassaladores”, o vídeo do funk virou hit no YouTube, e já está chegando aos 6 milhões de visualizações.

Apesar de o palavrão impedir que a canção seja tocada em grande parte das rádios sertanejas, ela tem ficado cada dia mais conhecida, principalmente pela internet e por tocar em diversas festas em todo o país.

Até agora, quem mais conseguiu repercussão foram os irmãos Carlos e Jader, nascidos no Acre e radicados em Goiânia.

Recentemente, duas novas versões foram lançadas: uma com Humberto e Ronaldo em parceria com Guilherme e Santiago, e outra com Munhoz e Mariano.

Abaixo, coloco 4 versões. As três já citadas e uma outra já publicada aqui no blog, do Bonde do Forró cantando com João Carreiro e Capataz. Por curiosidade, abaixo das músicas, segue o vídeo do funk, que originou as versões sertanejas.

[uolmais type=”audio” ]http://mais.uol.com.br/view/9749025[/uolmais]

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[uolmais type=”audio” ]http://mais.uol.com.br/view/11392140[/uolmais]

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[uolmais type=”audio” ]http://mais.uol.com.br/view/11392094[/uolmais]

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[uolmais type=”audio” ]http://mais.uol.com.br/view/9748992[/uolmais]

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[uolmais type=”video” ]http://mais.uol.com.br/view/11240478[/uolmais]


Três músicas
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André Piunti

João Carreiro e Capataz, dupla querida por muita gente que não tem muito apreço pela nova música sertaneja, aposta agora em uma canção romântica. Não é a primeira que eles gravam nesse estilo, mas será a primeira, nesses moldes, a ser trabalhada.

A canção se chama “Volta pro meu coracão”.

[uolmais type=”audio” ]http://mais.uol.com.br/view/10063852[/uolmais]

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Estreou na Globo, terça-feira, o seriado o “Tapas e Beijos”. O tema de abertura, como comentado aqui, ficou por conta da banda Calypso. Trata-se de uma regravação do sucesso de Leandro e Leonardo, “Entre tapas e beijos”.

[uolmais type=”audio” ]http://mais.uol.com.br/view/10066986[/uolmais]

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Já faz um tempinho que rola na internet a canção “Efeitos”, gravada pelo cantor Cristiano Araújo com participação do Jorge, da dupla Jorge e Mateus. A interpretação do Jorge, pouco moderada, é um ponto curioso na música, lembrando os primeiros trabalhos da dupla.

[uolmais type=”audio” ]http://mais.uol.com.br/view/10066659[/uolmais]


“Mangueira”, com João Carreiro & Capataz e Gino & Geno
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André Piunti

O encontro de duas duplas, de gerações diferentes, e com o duplo sentido bastante presente em suas letras, só poderia resultar em uma música cheia de tiradas maliciosas.

Aproveitando a proximidade do carnaval, João Carreiro & Capataz e Gino & Geno resolveram homenagear essa data tão festiva.

No tocador abaixo, a canção “Mangueira”.

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Mangueira

Todo ano ela vai
Ela vai todo ano
Na sapucai
Ver a mangueira entrando

Todo ano, ela vai
Sempre arrebenta
E rebola bonito
Quando a mangueira entra

Desfilou na portela
Salgueiro Viradouro
Na Estécio de Sá
ela foi um estouro

Na Império Serrano
E também na Beija-Flor
Mas é só na mangueira ela sente amor

Todo carnaval
Ela põe pra quebrar
Na Unidos da Tijuca
Ou na Estácio de Sá

Foi na Mocidade
Grande Rio, Imperatriz
Mas quando a Mangeuria entra
É que ela fica feliz

Ela foi destaque
No carro e no chão
Foi rainha de bateria
E gostou da emoção

Mas ela não sentiu
Nenhuma atração fatal
Quando a mangueira entra
Não tem nada igual


Quem serão os novos destaques em 2011?
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André Piunti

Chegar ao sucesso e fazer parte do primeiro escalão de artistas sertanejos é tarefa difícil que não se resume apenas ao talento.

É necessária toda uma estrutura, com investimento, dinheiro, timing, influência, bom relacionamento e mais outros vários aspectos que fogem do mérito musical.

Analisando friamente o que se conversa por detrás dos palcos, segue abaixo os nomes – alguns já bem conhecidos – que devem ascender no ano que vem e figurar entre os grandes destaques da música sertaneja.

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-Munhoz e Mariano

O nome surgiu nacionalmente na “Garagem do Faustão”, concurso vencido por eles e que os levou a fazer a abertura do “Sertanejo Pop Festival”. O trabalho firme de divulgação nacional começou agora nesse finalzinho de ano, e será reforçado com o lançamento de um DVD gravado em novembro, provavelmente com mais uma aparição no Faustão. Além de estarem na Som Livre, os cantores têm a admiração de muita gente de rádio pelo repertório diferenciado que apresentam. Cantam canções românticas e outras mais irreverentes, com algumas “besteiras” de vocabulário chulo, mas têm um limite que os mantém bastante comerciais. Esse meio termo conta muito a favor, já que falta uma dupla no topo com essas características. Em Campo Grande-MS, fazem shows para mais de 20 mil pessoas.

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-Gusttavo Lima

Por trás dele, está a estrutura responsável pelos sucessos de Jorge e Mateus e Maria Cecília e Rodolfo, e a meta é torná-lo o grande nome do ano que vem. A escola dele é a música sertaneja romântica, e isso é perceptível pelo seu jeito de cantar. O cantor carrega uma vantagem muito grande que é ter um público variado, quase nada segmentado. O fato de ser compositor (“Inventor dos Amores” é dele) também vai contar a favor. Se tudo correr como planejado, ele pode abrir mais ainda o leque do mercado sertanejo, e fazer com que a música romântica volte a crescer. O sucesso é iminente, a dúvida é qual será a dimensão dele.

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-Michel Teló

Ele mudou tanto seu estilo em um ano que fica difícil apostar no que ele vai se destacar ano que vem. Apesar das músicas de duplo sentido com certa dose de malícia, ele continua sendo muito carismático, característica que o acompanha desde os tempos do “Tradição”. As canções “Fugidinha” e “Se intrometeu” não são unanimidades, mas a repercussão positiva que tiveram para sua carreira é inegável. Somadas a “Ei, Psiu, Beijo, Me Liga”, ele vai se transformando em um cantor de hits. No estilo dele, hoje, não há mais ninguém. Não é fácil acertar hit atrás de hit, mas ele vem conseguindo. Junto ao talento reconhecido que possui, as perspectivas para o ano que vem são muito boas.

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-Paula Fernandes

Ter se destacado no “Emoções Sertanejas” e no especial de fim de ano de Roberto Carlos pesou demais. Paula deixou de ser a cantora de voz bonita admirada apenas no meio sertanejo para ficar conhecida no país. Ainda falta um grande sucesso, aquela música que todo mundo conhece, mas aos poucos ela vai conseguindo seu espaço. Problemas de gente grande começaram a aparecer, já que ontem surgiu o boato de que estaria namorando Roberto Carlos. Se quiser, a mídia vai pegar no pé por meses. Apesar de ter o escritório da Talismã por trás, sua ascensão não foi forçada, e a ideia é que continue nessa toada. No começo do ano, sai seu primeiro DVD, com um repertório cheio de boas sacadas. Suas canções definitivamente não são exemplo de música comercial, o que torna seu sucesso ainda mais admirável.

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-Marcos e Belutti

Eles já passaram da fase de “promessas” e avançaram muito em 2010. A dupla é bem estruturada comercialmente e tem o show bastante elogiado. Em fevereiro, gravam DVD com participação de João Bosco e Vinícius e de Bruno e Marrone. Eles estão em um patamar isolado, bem próximo do grande sucesso, e o repertório desse novo trabalho vai ser o ponto fundamental para definir se passarão a fazer parte do primeiro escalão do sertanejo. A expectativa que o mercado tem sobre eles é grande.

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-Henrique e Diego

A dupla conseguiu bom destaque esse ano, após se tornar a nova aposta do Sorocaba. Empresariados pelo cantor, Henrique e Diego cresceram até mais do que se esperava para 2010. No ano que vem, o trabalho vai ser intensificado, e novas canções, seguidas de um provável DVD, reforçarão o nome da dupla. Pela ascensão que tiveram, principalmente nesse segundo semestre, e pelo show animado que fazem, o destaque em 2011 parece muito real.

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-João Carreiro e Capataz

O sucesso da dupla seria bom para a própria música sertaneja. Nas apostas do ano passado, citei a dupla, e o DVD “Xique e Bacanizado” conseguiu destaque, mas pela qualidade e perfil diferenciados, os cantores têm potencial para subirem bem mais. As letras não são muito comerciais e os arranjos têm dificuldade de entrar em rádios sertanejas por causa do excesso de guitarras, mas a aposta em modas de viola os tornam diferentes. João Carreiro continua compondo modas bem tradicionais, que deverão ser lançadas mais cedo ou mais tarde.

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-Humberto e Ronaldo

É a outra dupla comandada pela equipe de Jorge e Mateus, Maria Cecília e Rodolfo e Gusttavo Lima. O sucesso dos cantores ainda é bastante regional, e sair do estado de Goiás é o primeiro grande desafio. Humberto é compositor em ascensão, autor de “Amo noite e dia” e “Chove, chove”, ambas gravadas por Jorge e Mateus. Olhando friamente, o caminho a ser percorrido ainda é longo, mas como seus empresários fazem a linha mais agressiva, até o final de 2011 tudo indica que eles já serão bem conhecidos.

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Barra da Saia

A chance que elas sempre buscaram, começou a aparecer em 2010. De escritório novo e muito influente, fizeram Faustão, Altas Horas e participaram do DVD da Hebe. Em 2011, vão mostrar se o mercado aceita ou não um grupo sertanejo formado por mulheres, todas instrumentistas talentosas, nada aventureiras. A favor delas, como já comentado aqui no blog, estão os mais de 10 anos de estrada. Mulheres cantoras são um desafio que a nova geração ainda não venceu.


Vídeo de João Neto e Frederico com Fernando e Sorocaba
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André Piunti

A dupla João Neto e Frederico prepara o lançamento do DVD “Só Modão”, e o primeiro vídeo desse trabalho pode ser conferido aqui.

Ao lado de Fernando e Sorocaba, a dupla canta “Tocando em Frente”, canção postada recentemente por aqui.

O DVD foi gravado em junho, na cidade de Goiânia, e ainda contou com a participação de Eduardo Costa e de João Carreiro e Capataz.


Entrevista: João Carreiro e Capataz
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André Piunti

Eles já foram tema de diversas postagens aqui, que tentaram mostrar uma outra linha de música sertaneja que também conquista público novo, baseada na utilização frequente da viola caipira.

João Carreiro, de 28 anos, e Capataz, de 32, misturaram a moda de viola a arranjos de rock, em uma tentativa de apresentar algo novo. A influência do rock na formacão musical de ambos é praticamente nula, a mistura foi apenas uma sacada que acabou dando certo.

Por opção, os dois cantores falam no linguajar caipira e cantam com erros de português, por achar que assim a música caipira estará representada de uma melhor forma.

São elogiados por diversos profissionais de dentro e de fora do gênero, por apostarem em algo diferente, distante da ideia “pop” que se tenta colar ao sertanejo.

Fãs e defensores da música de Tião Carreiro, João Carreiro e Capataz lançaram recentemente a canção “Roqueirinha”, que foi tão elogiada quanto criticada, justamente por se tratar de um rock, e não de uma moda de viola, como muitos esperavam deles.

Aos que não acompanham a música sertaneja e estão lendo o esse texto, fica aqui o registro de que a dupla é conhecida como “Os brutos do sertanejo”.

Faltava, aqui, uma entrevista com eles.

Estive com a dupla ontem, durante um show em Campinas-SP, e os pontos mais interessantes da conversa podem ser conferidos abaixo.

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Vocês fazem parte de uma nova geração de duplas, também começaram a tocar durante a faculdade, mas escolheram seguir por um estilo diferente de música, com mais referências aos pagodes de viola e ao estilo do Tião Carreiro, algo pouco comum entre as duplas da nova geração…

João Carreiro: A gente nunca planejou fazer algo de um jeito ou de outro, a gente foi fazendo o que gosta. Na realidade, logo no nosso segundo disco, nós já colocamos uma pegada pop rock que causou espanto no pessoal da viola caipira. Dentro da companheirada nossa de viola, o pessoal não gostou, então a gente também desagradou. O nosso som, querendo ou não, é o da viola caipira mais moderno. O que não muda na gente é o jeito de cantar, o jeito de cantar que vem do Tião Carreiro. Se eu cantar um rock, um reggae ou um samba, meu jeito de cantar vai ser sempre esse.

Colocar mais guitarra e fazer arranjos mais pesados vem de alguma outra influência de vocês? Vocês chegaram até a fazer uma regravação de “Exagerado”, do Cazuza.

João Carreiro: Nada, influência de nada. Nunca ouvi rock, só sertanejão mesmo. A mistura do poprock foi uma tentativa de por uma coisa nova e o negócio acabou dando certo. A única coisa que eu posso dizer que ouço fora desse nosso meio, é Raul Seixas. Então se você imaginar uma mistura de Tião Carreiro com Raul Seixas, a gente tá no meio.

Falando do meu lado de compositor, eu abri meu leque pra ter esse campo maior de composição pra não ficar bitolado.

Vocês acham que existe alguma chance de se formar um movimento com duplas, que faça o estilo de vocês, e que consiga conquistar grande parte desse mercado sertanejo de hoje, com o novo público de classe média e classe alta?

João Carreiro: Olha, que acho que sim, já tá até pegando. É difícil pegar o topo da pirâmide, esse topo é difícil mesmo, com a classe mais alta, com programas de TV mais elitizados. Só que o pessoal de faculdade e de boteco toca demais a gente. A gente tem um público muito fiel sem tocar em rádio, pois se você parar pra ver, a gente tem dificuldade de tocar em rádio FM, mesmo nos dias de hoje. Voz grave você não vê no mercado, não tem abertura, então é mais difícil.

Mas tocar em rádio grande hoje é mais questão de investimento…

Capataz: Sim, tem o poder financeiro, mas isso a gente não faz, não saímos comprando um monte de rádio aí pra enfiar nossa música goela abaixo. Nada contra quem faz, nada mesmo, todo mundo tem que correr atrás do seu trabalho e fazer do seu jeito, mas é que o que entra pra gente, a gente guarda, não gasta nisso não. Além do mais, nosso tipo de música não adianta forçar. Ou o caboclo gosta de viola ou não adianta.

Mesmo com esse estilo de tocar moda de viola com arranjos mais pesados, o maior sucesso de vocês é “Bruto, rústico e sistemático”, uma moda no estilo mais tradicional do Tião Carreiro. E assim como falavam de algumas canções do Tião, dizem que essa de vocês música é grosseira, preconceituosa, seja contra a mulher ou contra homossexual. Como vocês respondem a isso?

Capataz: Eu aprendi isso com o João Carreiro nessa nossa estrada. O compositor cria um personagem e a partir daí faz a história. Não é o João Carreiro falando, é um homem bruto falando, não tem que ficar explicando isso ou aquilo, isso é música, composição, o trabalho do compositor é assim.

João Carreiro: Eu falo mal do cara que tem tatuagem, mas eu também tenho tatuagem. Falo mal de cabeludo, mas sou cabeludo. Falo que minha filha caçula arrumou um namorado, mas minha filha tem 3 anos, sabe nem o que é isso. Deu pra entender que não tem nada a ver uma coisa com a outra? Falo de gay, mas olha só, canto até com um viado do meu lado, que é o Capataz.

Quem fala essas coisas não presta atenção. É que nem a nossa música nova, que um monte de gente se espantou por ser um rock, mas não parou pra entender.

A música é um rock e fala da sua paixão por uma roqueira, mas a viola não apareceu…

João Carreiro: É, é essa a história. E pessoal queria que eu falasse que tô apaixonado numa roqueirinha como, cantando uma moda de viola tradicional? Não. Eu fiz uma música sertaneja, só que em rock, justamente por causa da história. Cantada do meu jeito, composta do meu jeito, mas tocada de acordo com o que tem na música. Não tem que ficar preso sempre a uma coisa só.

Eu tinha curiosidade em ver o Tião Carreiro vivo hoje, pra ver o que ele ia falar de tudo isso que tá acontecendo e o que ele estaria gravando. O Tião gravou moda de viola, bolero, tango, samba e romântico, mesmo assim, nunca deixou e nem vai deixar de ser o maior violeiro que o Brasil já teve. Se o Tião fez isso, por que a gente não vai fazer?

Das várias fases da carreira do Tião Carreiro, você tem alguma preferida?

O Tião são várias coisas, né. Tem pro cara que gosta de moda bruta, pro que gosta de romântico, e eu gosto bastante das modas, se deixar a gente senta e canta cinco horas só de Tião, é o que a gente gosta. Se fosse pra falar de uma música específica dele que me agrada muito, é uma da fase romântica dele, chamada “Vim dizer adeus”, que já tinha outra estrutura de arranjo, já era bem mais apaixonada.

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Além de “Roqueirinha”, as canções “A melhor do Brasil”, gravada ao lado de João Neto e Frederico, e “É pra cabá”, são as músicas mais tocadas da dupla hoje nas rádios.

O “Carreiro” utilizado por João é em homenagem ao Tião.


Na trilha de Tião Carreiro
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André Piunti

Enquanto os jovens consomem cada vez mais música sertaneja, fazendo com que diversas duplas tentem agradá-los cada vez mais, acaba acontecendo certo distanciamento de grande parcela do público, aquele de classes mais baixas, tradicionalmente o público de música sertaneja.

É essa brecha que alguns artistas miram, e esse assunto vai ser tratado por aqui ao longo de alguns textos.

No de hoje, um estilo que vem crescendo lentamente, e que traz consigo a presença constante da tradicional viola caipira e a influência dos pagodes de viola.

Não se trata exclusivamente de uma tentativa de defender a cultura ou algo do gênero, pois a visão é tão comercial quanto qualquer outra. A diferença é que o caminho seguido faz questão de não se desprender do que é do passado, o que pode vir a funcionar com um público bastante abrangente.

A aposta é em um estilo mais popular, mais de massa, que tem a intenção de ser aceito também pelas pessoas que não compraram e não vão comprar o “novo sertanejo”.

A dupla João Carreiro e Capataz, por exemplo, já não é mais uma novidade. Apesar de os grandes centros ainda não adotarem a dupla como de primeiro escalão, os interiores do Brasil já a  coloca em patamares mais elevados.

Os cantores levaram a frente o apelido que receberam de “brutos”, termo que apesar de não ter sido usado por Tião Carreiro, define grande parte de suas composições machistas ou de teor intolerante, encaradas sempre com bom humor por quem as ouvia.

O estilo da dupla mantém o teor das letras e o ritmo do pagode de viola, mas quase sempre com um arranjo mais pesado, com guitarra e bateria.

Em uma matéria do “Estadão” de setembro, que falava sobre João Carreiro e Capataz, o produtor Carlos Miranda, conhecido por muita gente por sua participação de jurado em programas do SBT, deu a seguinte declaração sobre o trabalho da dupla:

“É um milhão de vezes mais interessante do que todas as duplas sertanejas ditas universitárias. Eles estão na contramão. Sabem usar a raiz muito bem e ao mesmo tempo modernizam com uma pegada forte.”

A visão, concordando ou não com ela, parte de alguém que não vive o ambiente sertanejo e é formado no universo pop/rock, acostumado a ver o sobe e desce de estilos que atingem em cheio os jovens, como faz a música sertaneja hoje.

Quem vem na cola, após um bom tempo sumidos, são os irmãos Mayck e Lyan, que agora sob investimento e amparados pela EMI, vem com o intuito, enfim, de disputar espaço no atual mercado, e não ficar apenas como dupla tocadora de moda antiga, como se fez a imagem dos rapazes enquanto personagens do programa do Raul Gil.

Apesar de o CD/DVD novo trazer diversas regravações de pagodes, um estilo muito semelhante ao de João Carreiro e Capataz, mais pesado, foi adotado. Por causa do tom da voz, muito baixo, o estilo ficou mais parecido ainda, como pode ser conferido na música “Pede pra voltar”, publicada ao final desse texto.

A primeira faixa desse novo trabalho é uma regravação de Zé Mulato e Cassiano, “Sangue Novo”, que traz algumas frases “proféticas”, que são, no fundo, um tipo de provocação muito comum nas letras de pagodes de viola, mas que acabaram com o tempo mostrando que tinham um fundo de verdade.

“Quem apostou na derrota de ver a viola morrer/ Hoje foge igual coelho e vai voltar de joelho/ Se quiser sobreviver”

“Disse o falso sertanejo que a viola já era/ Os amigos da panela se fecharam numa esfera/ Sem a benção da viola nenhuma moda prospera”

Apesar de não haver nenhuma indisposição entre duplas e estilos, é nesse embate “tradição versus novo” que reside a aposta de quem segue por esse caminho.

Ainda se ganham espaço nesse meio mais “bruto”, apesar de transitarem bastante no que se chama de sertanejo “moderno”, nomes como Jads e Jadson, os brasilienses Pedro Paulo e Matheus, que já tocam nas principais rádios dos grandes centros, e Munhoz e Mariano, mais uma dupla da interminável safra de Campo Grande, que recentemente esteve no programa do Faustão e começa a ganhar nome das festas pelo país.

*Em tempo: Tião Carreiro, ao lado de Lourival dos Santos, é o inventor do “Pagode de Viola”.

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No próximo texto sobre o tema, os caminhos distintos que as duplas estão seguindo, tentando prever o que vem pela frente. Quem puder, vale a pena escutar os recém-lançados CD’s de Victor e Leo, Jorge e Mateus e Bruno e Marrone, ambos sintomáticos.