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“Chora, me liga”, a música de uma geração
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André Piunti

Em 2009, ela fechou como a canção brasileira mais tocada nas rádios. Em 2010, como música mais executadas em shows.

A canção “Chora, me liga”, de João Bosco e Vinícius, faz parte do CD “Curtição”, lançado no início de 2009, época em que a dupla já passava por uma ascensão na carreira.

A música foi apresentada pela primeira vez, em rede nacional, no Faustão, em janeiro de 2009.

Em menos de seis meses, aquele batidão com um jargão forte já dava indícios do tamanho que poderia ter. Ao longo de 2009, foi possível ver que estava feita a música que marcaria a nova geração da música sertaneja.

Como de costume nos últimos anos, a música passou a ganhar versões em diversos ritmos nordestinos e a fazer sucesso nesses ritmos. A melodia passou a ser referência para muitas duplas que procuravam um sucesso, e a busca por um novo jargão passou a ser a principal meta de diversos artistas.

Desde o ano passado, a canção passou a ser regravada e conhecida em diversos países latinos, como Argentina e o México, por exemplo. Todas as regravações, no entanto, seja no Brasil ou lá fora, foram feitas sem autorização.

Euler Coelho (foto abaixo), empresário de João Bosco e Vinícius, é o compositor de “Chora, me liga”.

Abaixo, ele conta um pouco da história da canção.

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Em quais circunstâncias vc compôs “Chora, me liga”? Era época de procurar repertório para um novo CD?

Eu fiz a “Chora, Me Liga”, em junho ou julho de 2008, o CD “Curtição” estava sendo produzido. Me lembro que era madrugada e fazia muito frio nesse dia no meu apartamento, na cidade de Campo Grande. Resolvi tomar um banho e quando estava pra entrar no chuveiro, a parte A e B da música vieram prontas na minha cabeça, assim mesmo ,do nada, e as fiz em cinco minutos.

Depois disso, entrei no banho e quando eu estava lá, na pior das situações, com a a cabeça toda ensaboada, o refrão veio muito forte e pronto na minha cabeça. Pra eu não esquecer a música, fiquei escrevendo trechos do refrão no box do chuveiro e lavando rápido a cabeça pra pegar o violão e terminar o quanto antes.

O termo “Chora, me liga” você ouviu de alguém, na TV, na rua, algo assim?

Nunca ouvi antes, foi algo que criei mesmo.

A música é pra alguém? A história é real?

Se era, não me lembro pra quem foi, mas naquele momento, minha vida e de alguns amigos era mais ou menos o que a musica diz.

Sabe quantas regravações ela já teve?

Gravação oficial e com autorização, só a do João Bosco e Vinícius. Ouso dizer que regravações ilegais tem milhares. Ja ouvi ela em pagode, em rock, em axé e até em dance.

Quanto ela rendeu financeiramente?

Nunca parei pra somar quanto só ela rendeu especificamente, mas deu bem mais do que eu imaginaria que algum dia uma música me daria.

Na hora em que ficou pronta, você já teve a impressão de que seria hit?

Eu achei a musica “boazinha”, me lembro que depois que terminei fiquei com um pouco de receio de mandar pro Dudu (Dudu Borges, produtor), pois o repertório do disco do João Bosco e Vinícius estava pronto. Lembro também que o Bruno (Bruno e Marrone) tinha me falado que precisava de um batidão pro disco dele, cheguei até a digitar o email dele pra mandar a música pra ele, mas desisti na hora.

Quando a música chegou no e-mail do Dudu, ele estava no estúdio junto com o João Bosco e Vinícius e ficaram loucos, sabiam que ela seria o HIT da vida deles. Penso que música tem endereço certo, talvez com o Bruno e Marrone ela não faria diferença.

A canção acabou sendo a mais tocada até hoje dessa nova geração de sertanejos, virou o grande hit da fase “universitária”. Foi a música mais tocada nas rádios em 2009, e em shows, em 2010. Pelos trabalhos que surgiram depois, você acha que ela influenciou muitas duplas? Muita gente tentou seguir o formato dela?

Acho que influenciou e marcou uma geração, mas o mérito disso não é meu,  e sim de Deus e do João Bosco e Vinícius, fui apenas o cara que transmitiu ela pro papel e nada mais, poderia ter sido outra pessoa. Depois que ela saiu, ouvi inúmeras versões, respostas e até tentativas frustradas de imitarem a seqüência melódica e até o mesmo papo, mas fórmula pra sucesso a gente sabe que não existe.

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Pedi ao Euler a gravação que ele fez logo que compôs a música, mas ele não encontrou. Se por algum acaso ele achar mais para frente, eu publico por aqui, como curiosidade.

Não sei se há alguém que não conheça, mas segue abaixo “Chora, me liga”, com João Bosco e Vinícius.

[uolmais type=”audio” ]http://mais.uol.com.br/view/10571365[/uolmais]


O que se ouve por aí
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André Piunti

Se as listas de músicas mais tocadas nas rádios são muito questionadas pelo fato de a pesquisa se restringir a um número x de rádios, a lista de canções mais tocadas em shows dá um panorama interessante do que se anda ouvindo pelo país.

Apesar de muitos duvidarem da idoneidade do ECAD no repasse dos direitos autorais, o órgão é reconhecidamente “chato” na hora de recolher o dinheiro, costuma não deixar passar qualquer evento ou festa.

Mais abaixo, está a lista das músicas mais tocadas em shows em 2010. Como já noticiado aqui, “Chora, me liga” ficou em primeiro lugar.

O resto da lista, no entanto, não é de todo positivo para a música sertaneja.

As canções “Pode Chorar” e “A Fila Andou” são conhecidas em algumas regiões nas vozes de Jorge e Mateus e Maria Cecília e Rodolfo, respectivamente, mas são regravações.

O domínio do axé é muito grande, e não é certo colocar todo o mérito no carnaval, que não dura nem uma semana.

Chamam a atenção “País Tropical”, de Jorge Ben Jor, gravada em 1969, e “100% Você”, sucesso do Chiclete com Banana gravado em 2004.

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1- Chora me liga (Euler Coelho)
2 – Praieiro (Manno Góes)
3 – Quebra Aê (Durval Lelys)
4 – Beijar na boca (Blanch Van Gogh e Roger Tom)
5 – 100% Você (Alexandre Peixe e Beto Garrido)
6 – Pode Chorar (Dorgival Dantas)
7 – País tropical (Jorge Ben Jor)
8 – Rebolation (Nenel e Leo Santana)
9 – A fila andou (Alexandre Peixe e Beto Garrido)
10 – Exttravasa (Adson Tapajós, Jean Carvalho, Zeca Brasileiro e Sérgio Rocha)


Uma turnê sertaneja na Europa
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André Piunti

Na última semana, a dupla João Bosco e Vinícius cantou em Madri, Londres, Lisboa e Porto, nessa ordem, de quinta até domingo.

As noites de sábado e domingo (Londres e Lisboa), como sempre, foram as que mais chamaram a atenção. O HMV Forum, em Londres, lotou. A disposição do público é muito parecida com a do Credicard Hall, em São Paulo.

No sábado, em Lisboa, a festa foi interessante pelo fato de que, assim como acontece nos rodeios, havia muita gente presente também pela festa, e não exclusivamente pelo artista. Foram cerca de 4 mil pessoas. Nessa apresentação, realizada em um ginásio de esportes, havia a maior proporção de estrangeiros entre todos os shows.

Os shows não são como no Brasil, os espaços são menores, o público é menor, mas mesmo assim, essas apresentações sertanejas no exterior têm ficado cada vez mais frequentes.

Fato é que muitos apostam no grande número de imigrantes brasileiros, que formam um mercado consumidor de sertanejo aparentemente interessante, mas que ainda não se traduziu em grandes lucros a ninguém.

Para os cantores, que na maioria das vezes não recebem o que receberiam em um show no Brasil, vale o investimento de tempo para que o currículo cresça, que o nome seja mais forte e que se crie alguma mídia por conta dos shows internacionais.

Para os empresários contratantes, trata-se de um investimento alto, sem a intenção de retorno financeiro a curto prazo, mas com a ideia de que esse mercado estrangeiro venha a se tornar muito rentável.

No texto que fiz sobre o show de Madri, João Bosco declarou que achava muito interessante cantar de forma mais próxima do público, como acontecem em boates, algo que a dupla já não faz pelo menos desde 2006. Por mais de uma vez, durante os quatro shows, a dupla comentou que se sentia feliz por resgatar essa proximidade das pessoas que acaba diminuindo a cada vez que o sucesso cresce.

Vale ressaltar que é bastante nítida a satisfação dos artistas em ver que a carreira conseguiu chegar tão longe.

O responsável pela turnê de João Bosco e Vinícius na Europa foi Joselito Cerqueira, que é um dos contratantes importantes na entrada da música sertaneja no Rio de Janeiro, dono da Candelabro Eventos.

Ele admite que se trata unicamente de investimento, e explica o que se espera dessa aposta na Europa.

“Um show fora do Brasil é uma questão de posicionamento do artista. Nós colocamos a dupla pra cantar nesse ou aquele lugar, e a partir daí, começa um trabalho que se vislumbra pros próximos anos. Obviamente, a conta não bate, todos sabem que é um investimento. Tocamos agora, ano que vem a gente marca outra turnê, e no outro ano também. O projeto passa a ser parte da carreira do artista, assim como qualquer festa grande do país. Esse ano ainda, já há negociações para shows de outros artistas, então acaba se criando um costume, abrindo um mercado, que trará retorno nos próximos anos”.

As duplas sertanejas atualmente não pretendem gravar discos em outras línguas. No ano retrasado, Victor e Leo gravaram um álbum em espanhol, mas pouco tempo depois admitiram que investir na carreira internacional significaria abrir mão de todo o trabalho conquistado no país.

A exceção vai ser a gravação de João Bosco e Vinícius de “Chora, me liga” em espanhol. Como a música é sucesso em alguns países da América do Sul, a dupla vai aproveitar o momento e lançar sua própria versão.

O trabalho no exterior ainda levará um bom tempo até começar a dar o retorno desejado, mas ele está sendo feito. Contra o alto gasto que uma turnê dessas tem, estão experiências como show de Lisboa, com trânsito e muita gente na fila para entrar.

Ainda nesse primeiro semestre, Daniel se apresenta na Europa. No segundo semestre, será a vez de Michel Teló.


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