Blog Universo Sertanejo

Arquivo : Bastidores

BASTIDORES: Entrevista com Sorocaba
Comentários Comente

André Piunti

Fernando Fakri de Assis, 32 anos, paulistano.

Integrante de uma das principais duplas sertanejas da nova geração, Sorocaba está lançando seu novo CD ao lado do parceiro Fernando, mas este assunto vai ficar para outra hora.

Como a série de entrevistas ouve figuras importantes dos bastidores, o papo com Sorocaba é sobre mercado, negócios, concorrência e futuro da música sertaneja.

Sócio da “FS Produções Artísticas” (FSPA), da editora JKF, e do cantor Luan Santana, Sorocaba administra de perto as carreiras de 2 duplas, um cantor solo e um grupo de Samba. De quebra, é o compositor que mais arrecadou com direitos autorais no Brasil em 2011 e 2012.

Abaixo, a conversa que tive com ele.

*Fotos: Cadu Fernandes

Como surgiu a ideia de abrir o escritório? Qual o tamanho dele atualmente?

O escritório começou por causa da procura que havia por shows da dupla. Havia datas especiais muito procuradas, como feriados por exemplo, e a gente viu que precisava dar outra opção aos contratantes. ‘Fernando e Sorocaba não estão disponíveis pra esse dia, mas tenho outra dupla pra te atender’. A abertura do escritório veio justamente disso. Hoje ele tem um tamanho razoavelmente bom, temos mais quatro artistas de grande importância, Marcos e Belutti, Thaeme e Thiago, Lucas Lucco e o Inimigos da HP, grupo de samba. Há mais nomes em negociação, mas ainda não posso adiantar quais são.

Há espaço para novos artistas?

A gente sempre tá interessado em artistas bons, todo escritório está. Artistas que fazem coisas iguais é o que mais tem, isso já não nos interessa. O que interessa é o que eu gosto de chamar de ‘artistas conceituais’, que trazem novas ideias, novas propostas, novos ares. Quem não queria achar um Luan Santana, que trouxe uma quantidade imensa de jovens pro sertanejo? Quem não queria um Victor e Leo, que trouxe um público que curtia MPB pro sertanejo? Todo mundo quer. O escritório, como eu disse, já está com um tamanho razoavelmente bom, mas artistas diferentes sempre terão portas abertas.

Você fala sempre de “artistas com diferencial”. Qual é a principal virtude da sua dupla?

Acho que uma dos principais virtudes da dupla está nas nossas apresentações durante as turnês. Fernando e Sorocaba já se consolidou como uma uma dupla que aposta na inovação. A gente sempre gostou de levar outros tipos de entretenimento aos palcos além da boa música, usando uma pitada de tecnologia, mágica, movimentação e etc.  Gostamos de surpreender as pessoas e isso já virou uma marca da dupla.

Pra você ter uma ideia, na nova turnê, o baterista e o sanfoneiro ficam dentro de cúpulas, em plataformas elevatórias fora do palco, no meio do público. Além do fato de a gente trabalhar com a mobilidade de painéis de LED e outras coisas. Bom entretenimento é o nosso lema.

O Fernando é um segunda voz tão presente quanto o primeira voz. No início da carreira, no entanto,  ele não tinha tanto destaque como agora. É também uma estratégia ou ele tomou o espaço dele naturalmente? Esse também seria um diferencial?

Ele ganhou o espaço dele, foi muito natural. Ele é um cara diferente. Desde o primeiro show que eu fiz com ele, praticamente 6 anos atrás, eu sabia que precisaríamos explorá-lo muito no futuro. Sabia que ele era ótimo no piano e na guitarra, mas no começo não havia espaço pra isso no show. O tempo foi mostrando quem ele era, e hoje ele tem no currículo a produção dos últimos CD’s do Luan Santana e do Chitãozinho e Xororó. Eu defendo tanto que a gente precisa de artistas diferentes, e ele é justamente um deles. Ele agrega muito, não é apenas mais um. Ele tem muita carta na manga, vai surpreender muita gente ainda.

A FSPA e a Audiomix/JeM são os dois principais escritórios do mercado atualmente. Você os vê como seus principais concorrentes?

Não sei se a palavra “concorrente” define bem, talvez passe uma ideia errada. São os 2 mais representativos hoje, mas há outros importantes também. Eu não gosto de falar em concorrência por poder passar algo negativo, a variedade é extremamente necessária. Essa espécie de “disputa” é sadia pro mercado, quando é feita de forma honesta. Já imaginou se não houvesse o nosso ou não houvesse o deles, se existisse um monopólio? Existindo frentes diferentes, fica aquela necessidade de sempre tentar algo novo, querer crescer, querer ser melhor, e quem ganha com isso, no final das contas, é o sertanejo.

Você tem um discurso muito positivo nas suas entrevistas. Por mais que a gente saiba da existência de eventuais problemas nos bastidores, suas declarações passam uma impressão de que tudo está sempre andando bem…

Na verdade não é que o discurso seja positivo, é que algumas pessoas tem uma ideia errada de como funcionam as coisas. Acho que muita gente ainda tem que entender que um bom momento do Luan Santana reflete positivamente pra mim. Um bom momento do Gusttavo Lima também é bom pro Fernando e Sorocaba. Quem confia e se garante no seu trabalho, não pode achar o sucesso alheio algo ruim. Pra mim, quanto mais gente boa fizer sucesso, mais o mercado vai expandir, e eu me aproveito dessa maior abertura. Vai haver mais festas, mais eventos, mais procura por shows, e isso reflete a todos. Se eu fizer minha parte, Victor e Leo fizerem a deles, Michel fizer a dele, Jorge e Mateus fizerem a deles, só vai ser bom. Isso é algo que eu acho importante que as pessoas entendam, e muita gente eu sei que não enxerga assim.

Poucos meses após você decidir investir no Luan Santana, ele virou sucesso nacional e se tornou maior que a dupla Fernando e Sorocaba, que ainda estava num processo de crescimento. Muitos te perguntaram se isso te incomodou, mas pelo jeito, o seu raciocínio então é de isso foi positivo pra você também…

É isso… Essa foi uma pergunta que me fizeram muito na época em que ele estourou, e geralmente vinha acompanhada de uma outra pergunta: por que você passou ‘Meteoro’ pra ele e não gravou? Começando pela segunda, é porque a música tinha o perfil dele. O Luan tem o tipo dele, a forma de cantar dele, tinha um público muito bem definido, então aquela música se encaixava perfeitamente nele. Se alguém gravasse e não tivesse esse perfil, provavelmente não chegaria perto do sucesso que ele conseguiu.

Sobre o fato de ele ter se tornado maior que a dupla na época, longe de ter sido um problema. Como eu te disse, eu sempre pensei no segmento ‘música sertaneja’ como um todo, e o Luan agregou muito, trouxe um público muito grande pro sertanejo, ajudou a expandir o mercado. Quantos jovens não foram apresentados ao sertanejo através do Luan Santana, depois conheceram Fernando e Sorocaba, Jorge e Mateus, Victor e Leo, até Chitãozinho e Xororó e até Tião Carreiro e Pardinho? Por isso que a palavra “concorrência” às vezes pode passar uma impressão errada. É claro que você quer ser o maior, mas o sucesso alheio muitas vezes é muito positivo para os outros artistas.

O fim de um contrato entre artista e empresário invariavelmente dá problema e, muitas vezes, uma repercussão pública negativa. Como você vê o problema?

Eu acho que é necessário que se crie rapidamente alguma norma ou alguma lei que regulamente essa relação entre escritórios e artistas. Vivemos em um meio muito profissional, muito sério, mas que esbarra às vezes nessa questão. É preciso que fique claro direitos de ambos os lados, que haja uma segurança na hora em que se assina um contrato, assim como acontece no futebol. Os escritórios precisam se unir nessa situação, pois ela é não é boa pra ninguém. Isso desestimula o investimento em cultura e arte no Brasil, pois falando de forma racional, você não sabe até quando determinado artista vai estar com você, então vai ficando difícil a decisão de se investir nele. Não estou citando nenhum caso específico ou falando desse ou daquele artista, mas sim da questão em geral. É um problema que existe e que precisamos resolver. 

Quem te acompanha pela internet, tem a impressão de que você está sempre trabalhando. Quando não está no escritório, está em estúdio. E quando faz o já tradicional churrasco na sua casa, sempre tem gente do meio junto ou alguém da sua turma de compositores…

É isso. Esse é o Sorocaba. Eu gosto muito do que eu faço, hobby e trabalho acabam se misturando. Eu gosto muito disso, meu trabalho é muito prazeroso pra mim. Eu sou incansável atrás de procurar uma música que seja popular e que tenha um diferencial, vivo 24 horas em função de música, é como se eu trabalhasse 24 horas por dia. Eu e o Fernando, assim como todo o escritório, gostamos de por a mão na massa. Acho que esse é um dos grandes motivos do nosso sucesso.

Você é sócio do escritório, sócio de uma editora, compositor, cantor, empresário de outros artistas, além de ter seus negócios fora da música. Não houve nenhum momento em que você parou pra pensar e percebeu que era hora de se preocupar mais apenas com a própria carreira musical?

Poxa, não tive isso ainda não, graças a Deus. Acredito que sempre consegui administrar muito bem. Costumo dizer que uma carreira estabilizada tem vários pilares que a sustentam, por isso eu me dedico a todos os aspectos da carreira. Um pilar é o repertório, talvez o principal. Temos a vantagem de nosso trabalho ser muito autoral, ter a nossa cara, estar dentro do nosso controle. Outro pilar é o show, no qual a gente investe muito e pelo qual temos sido elogiados há anos. O terceiro pilar é o escritório, o trabalho feito por trás dos palcos, as estratégias pensadas pra manter a carreira do artista. Se você tem esses três aspectos bem formados, quando um deles não vai tão bem, o outro ajuda a segurar, equilibrar as coisas.

É verdade que nós trabalhamos hoje com muito gás, com o acelerador no talo, e não sei se é possível manter esse nível por anos e anos. Mas hoje eu tenho 32 anos, sou solteiro, tenho meu tempo todo pra música, então eu trabalho no limite pra conseguir os melhores resultados possíveis.

Você foi o profissional que mais arrecadou com direitos autorais em 2011 e 2012. Além da questão do talento, que todo compositor precisa ter, há algo a mais no seu processo de composição? Alguma estratégia, alguma preocupação, um raciocínio mais frio, mais calculado?

Não é um raciocínio frio não, eu considero algo caloroso. Minha forma de compor é engraçada. Tem vezes que parece que baixa uma coisa e em 15 minutos sai uma música. ‘Paga Pau’ foi assim, ‘Meteoro’ foi assim, saíram em 15 minutos, tudo de uma vez. Já ‘Madri’, por exemplo, eu levei meses pra terminar. Não há uma fórmula ou um segredo, mas eu acho que se há uma recomendação, é de que o compositor busque sempre tentar ser popular, pois a música sertaneja é popular e nunca vai deixar de ser. E ser popular não é ser bobo, falar qualquer coisa, qualquer besteira. Esse equilíbrio é o grande negócio.

Meu segredo como compositor é ter conseguido desenvolver esse filtro popular, eu não nasci sabendo. Minhas primeiras composições eram bobinhas demais, depois passei a pirar demais e errar a mão. Levou tempo pra me ajustar e desenvolver essa espécie de controle. Os acertos vem quando esse processo deixa de ser racional e passa a ser natural.

O dinheiro dos direitos autorais vem principalmente de onde? Da dupla ou das músicas gravadas pelo Luan Santana?

O grosso mesmo vem do Fernando e Sorocaba. Uns 90% pelo menos do que a gente grava e canta nos shows são coisas nossas. O show é muito autoral, então a fonte principal é a própria dupla. É fato que o Luan tem um papel importantíssimo nessa história, já que grandes sucessos dele são composições minhas e elas tocam muito até hoje, em rádios e em shows. Mas nossos shows e CD’s pesam muito, o fato de serem autorais é o que me fez chegar nesse primeiro lugar.

Muitos artistas da nova geração, no início da carreira, focaram suas estratégias de divulgação na distribuição de CD’s promocionais, inclusive você. Pelo que já ouvi você dizer, essa prática é coisa do passado?

Essa foi uma estratégia que deu muito certo e foi muito importante, mas na minha opinião, já passou. Eu já não acredito que seja uma boa estratégia pra 2013. Eu vejo muita gente olhando pra trás buscando referências, mas não estão percebendo que nosso segmento está mudando as estratégias muito rapidamente.

Hoje nosso escritório é muito mais voltado pro digital, acompanhamento do iTunes, YouTube, redes sociais, novas oportunidades. Com uma estrutura digital bem equipada, como é a nossa, o escritório tem muito mais força do que se distribuísse CD na mão das pessoas. Claro que os promocionais continuam aí, nas campanhas de rádio, em alguma premiação em show, alguma divulgação pontual, mas a grosso modo, quem estiver voltado pro digital vai ter mais sucesso.

Você ganha muito com direitos autorais, mas não condena quem baixa suas músicas de graça. Como funciona essa quase “contradição” na sua cabeça?

Cara… complicada a pergunta… preciso parar e pensar, mas de fato é um dilema que eu vivo. Eu não fico julgando o que as pessoas fazem na internet, apesar de eu preferir, claro, receber pelas músicas. O que eu acho é que estamos em uma fase de transição e que soluções vão aparecer com o tempo. O iTunes apareceu como uma alternativa boa, que vende música a 99 cents. É um exemplo, uma ideia, mas há muita gente se mexendo pra que todos possam ganhar e aproveitar os benefícios da internet. Eu realmente não consigo te responder da forma que eu gostaria, pois estamos todos nos acostumando com um cenário novo. O que eu acho importante é que todo mundo possa receber por seu trabalho.

Qual sua relação e sua opinião a respeito do ECAD? 

Minha relação é boa, e eu acredito que ainda não exista uma solução melhor que o ECAD, mas sou aberto a discussões e propostas novas. Acho que essa questão de direitos autorais precisa ser resolvida logo, pois há centenas de compositores que precisam receber de forma justa e rápida, já que dependem disso pra viver. Eu tenho muita curiosidade em saber como funciona essa questão nos Estados Unidos e na Europa. Não apenas o que diz a lei, mas como se consegue fiscalizar de forma eficaz e justa. Que eu saiba, não há essa briga imensa em outros países, é uma coisa muito nossa. Acho que a gente não pode fechar os olhos pra ideias novas, como muitos fazem. Eu mesmo conheço um projeto novo que vai monitorar a execução de músicas em rádios de forma extremamente confiável. A gente tem que estar de olho em propostas novas justamente porque é de nosso interesse.

Você é um otimista em relação ao futuro do sertanejo, não prevê a queda que muitos profissionais comentam…

Eu acredito que nos próximos anos, quem investir em entretenimento de qualidade, vai se dar bem. O sertanejo é, sem sombra de dúvidas, o gênero que mais está trazendo bom entretenimento pra esse país. O sertanejo está disparado na frente dos outros estilos, muito a frente do segundo. Na minha visão, ele vai permanecer em nível muito alto, e vai ser a principal música do Brasil ainda por muitos anos. Acredito também que o nível de exigência do povo vai aumentar, e as duplas e as festas terão que acompanhar esse desejo por coisas melhores. Não vejo a queda que algumas pessoas preveem. É claro que há uma variação entre artistas, uns caem, novos surgem, mas o mercado de entretenimento sertanejo vai seguir em alta.

___

A série “Bastidores”, publicada toda segunda-feira, já teve outros quatro entrevistados: 

-Dudu Borges, produtor musical

-Arleyde Caldi, assessora de imprensa de Zezé di Camargo e Luciano há 21 anos e de Luan Santana

-Marcelo Siqueira, diretor artístico da Nativa FM

-Charles Bonissoni, sócio-fundador da Wood’s

___

*O sistema de comentários do blog está passando por uma mudança, então praticamente todos os posts estão sem nenhum comentário. Os comentários não foram apagados, apenas não estão visíveis durante a mudança. Logo estarão de volta.


BASTIDORES: Entrevista com Marcelo Siqueira
Comentários Comente

André Piunti

Marcelo Machado de Siqueira, 45 anos, paulistano.

Há 30 anos no rádio, começou na extinta Rádio Cidade, em 1983, e há 10 anos é diretor artístico da Nativa FM, a maior rádio sertaneja do país. Em São Paulo, sua audiência varia entre 200 e 300 mil ouvintes por minuto. No país, são 16 afiliadas.

Em três décadas de rádio, Siqueira, formado pela FAAP em Rádio e TV, viu o sertanejo romântico surgir no país, ser barrado em São Paulo, e se tornou um dos principais articuladores e defensores da música sertaneja na maior cidade do Brasil.

Após ajudar o “universitário” a ganhar força na capital, Siqueira diz que é hora de pisar no freio: de tanto que se aceitou influências de outros ritmos, segundo ele, o sertanejo está se desvirtuando.

Tem relação transparente com boa parte dos artistas, já que, em muitos casos, é consultado durante a escolha de uma nova música de trabalho. A sinceridade, no entanto, nem sempre é compreendida. Faz parte do jogo.

Na conversa que tive com ele, discutimos música, dinheiro, e é claro, jabá.

___

Há uma frase famosa antiga que diz que “o rádio faz o artista”. Ainda faz?

Eu acredito muito. Não dá pra definir uma porcentagem, mas é uma parte importante de uma combinação de coisas. Você tem que fazer um trabalho completo, se expor corretamente, ter um projeto bem amarrado pra que sua música consiga extrapolar a rádio, passar a vender CD, virar comentário na TV, na balada, na escola, nas redes sociais. O rádio não é o único responsável por um sucesso, mas tem uma parcela importante nisso.

A segmentação das rádios não atrapalhou a música brasileira como um todo? Uma rádio que toca de tudo não seria mais democrática?

Eu não acho, acho até o contrário. A segmentação dá pras pessoas a oportunidade de ouvir o que elas querem. O rádio é muito profissional, cada espaço, cada ouvinte, cada comercial é disputado palmo a palmo, e a audiência importa muito. As pesquisas que a gente realiza mostram muito pontualmente o que a pessoa quer ouvir em cada bairro, classe social, idade, sexo e etc. Então a gente entrega tudo como o ouvinte quer, tenta fazer o gosto dele da forma mais exata possível. A segmentação é bem democrática. Se a pessoa não gosta de sertanejo, ela troca de rádio e acha outra com a qual ela se identifique mais.

Você comanda uma rádio que tem de 200 a 300 mil ouvintes por minuto, naturalmente muito procurada. Qual é sua posição a respeito do jabá?

Você vai encontrar em qualquer cidade do país gente que tira benefício próprio pra tocar um produto. O jabá existe e é por causa do profissional ou da linha de frente que é colocada na rádio. Eu abomino e acho grotesco. Seja o “jabazeado” radialista ou radiodifusor. Aqui (Grupo Bandeirantes, da qual a Nativa faz parte) é tudo sério e auditado. E não deve ser diferente. Música paga é música ruim. Música que vai acabar com a rádio, e consequentemente, com o rádio. Já vi muitas rádios com potencial jogarem a toalha para a igreja ou outros grupos por não terem programação e audiência competitivas.

A música ruim e, possivelmente, o jabá, acabaram com a audiência e, consequentemente, com o faturamento. Resumindo, o jabazeiro e o jabazeado estão encurtando suas próprias vidas profissionais, matando o negócio de muitos profissionais sérios. Reduzindo o campo de trabalho e colocando em cheque um veículo tão fantástico e importante, que é o rádio.

Como é feita sua programação, então? Por que há músicas que podem tocar 2 vezes ao dia e outras 10?

Quem decide se vai tocar ou não é a rádio e não o dinheiro. Se o artista tem dinheiro e quer comprar comerciais, isso não é jabá. As promoções que frequentemente acontecem são para conquista e manutenção de audiência. Isso pode acontecer por iniciativa e investimento da própria rádio ou através da parceria com algum artista. Quando se toca 5, 10 ou 15 vezes a música, ela tem que ser muito adequada à rádio. Ela vai trazer audiência. O volume da exposição está diretamente ligado à preferência pela mesma e à rotatividade do público. O dinheiro não define nada.

A relação entre rádio e artista, havendo adequação para ambos, pode gerar inúmeros bons negócios: shows, revistas, jogos, brinquedos, roupas e muito mais. É óbvio que o veículo, seja ele qual for, terá interesse na grande exposição do artista.

A programação não é comercializável?

Não, ela não está à venda.

É possível fazer um trabalho de rádio sem dinheiro?

É possível, sim. Mas eu não acredito simplesmente no tocar por tocar, o caminho assim é bem mais difícil. O trabalho de mídia é importante. Se o cara ouve tua música no rádio, vê você no outdoor, no anúncio do jornal, no programa de TV, a coisa ganha outra dimensão. A mídia no geral é importante. Se a música é um produto, você tem que tratar profissionalmente. Você vai conseguir tocar sem investimento, basta sua música ser adequada. Mas você tem que bater seu bumbo, correr atrás, não adianta ficar de braços cruzados, porque sucesso é uma soma de vários fatores.

A melhor forma de se chegar em uma rádio é através dos divulgadores?

Não necessariamente. O empresário pode vir, o artista pode. Eu não te digo que ouço 100% do que me mandam porque nem tudo chega, tem coisa que cai em SPAM, que eu não vejo. Mas eu vivo música o tempo todo, no carro, em casa. Já aconteceu de eu estar ouvindo uma música na internet e ir atrás do artista pra conhecer mais. Por exemplo, Fernando e Sorocaba. Eu ouvi uma vez na internet, eles já eram um pouco conhecidos no Paraná, mas ainda não havia uma ligação boa entre os mercados.

Fui atrás pra saber quem era e descobri que tinham um empresário chamado Paulo (Pissoloto). Liguei pra ele, me apresentei e perguntei se ele não tinha interesse em conversar, que eu havia achado a dupla dele interessante e que poderia ter chance em São Paulo. Dois dias depois, estava ele e o Sorocaba na minha sala e a partir de então a dupla começou a tocar em São Paulo.

Em uma apresentação no Faustão, o Luciano, irmão do Zezé, agradeceu o fato de “Mentes tão bem” ter tido destaque na novela “Araguaia”, e consequentemente, se tornado um sucesso nacional. Alguns minutos depois, você se manifestou no Twitter um tanto incomodado, dizendo que deveriam valorizar mais o rádio. O que te incomodou?

Sabe o que incomoda? É que na nossa frente, o discurso do artista sobre o rádio é um, e eu gostaria que esse discurso respeitoso fosse propagado em todos os veículos de comunicação. Eu canso de ver artista aqui na frente dizendo “devo tudo ao rádio”, “preciso me dedicar mais ao rádio”, “preciso visitar mais as rádios”, e aí chega em outro veículo e a coisa muda totalmente. Eu tô falando desse caso específico porque essa música foi inventada dentro do rádio e o discurso lá foi diferente. Não é o Luciano, é algo geral, acontece sempre. Mas foi tudo resolvido, sem problemas.

Como você vê a música sertaneja atual?

A quantidade de coisas boas antes era maior. Por estarem misturando influências demais e pelo fato de um artista fazer um sucesso e todo mundo sair copiando, a qualidade tem ficado de lado. Essa história de mina, pira, empina, balada… as mesmas palavras distribuídas de formas diferentes, os ritmos iguais, tudo isso prejudica a música sertaneja, faz com que ela se desvirtue mais ainda e perca as referências.

Você não só não gosta das misturas como também toca muito pouco dessas canções. Elas atrapalham a programação?

O ouvinte da Nativa consome principalmente música romântica e sertaneja. Antes de todos, nós já dávamos espaço pro “universitário”, pra músicas de festa… criamos espaço na programação pras novidades. Mas tem um limite. Por mais que a gente dê espaço, não posso concordar que certas coisas que aparecem por aí sejam sertanejas, não vou ficar 24 horas vendendo algo como sertanejo sabendo que não é. Tem muita gente boa, claro, mas tem muita gente ruim se aproveitando do movimento. Tá cheio de investidor torrando dinheiro em artista ruim achando que vai dar retorno, e isso atrapalha. Eu acredito no sertanejo e sou contra quem chega pra desvirtuar. Estão desvirtuando o sertanejo. Tem quem chegue com outro estlio, coloque um instrumento pra caracterizar, ponha dois caras pra cantar pra falar que é dupla, mas que na verdade poderia ser uma banda de qualquer outra coisa, e quer falar que é sertanejo. Isso vai tornando tudo descartável. Sertanejo não é isso.

A Nativa esteve na liderança de São Paulo no ano passado e a principal concorrente era outra sertaneja, a Tupi. Hoje, a Nativa está em terceiro, atrás de duas que também tocam sertanejo, mas que são mais abrangentes, tocam outros estilos populares, a Transcontinental e a Band FM. Isso é devido a uma queda do sertanejo?

Não acho que seja não. Acredito que os outros estilos estejam crescendo, fazendo trabalho correto, ganhando espaço, mas não que o sertanejo esteja caindo. Tem o Naldo, o Belo, Thiaguinho. O funk ganhou força, o pagode tem seu espaço. Fora isso, tem o trabalho das rádios, que também está sendo bem feito.

Há artistas que funcionam como coringa, que aparecem mais na programação quando o ibope cai?

Você aprende com os anos a trabalhar com técnicas de programação. Não é bom que você fique preso nos mesmos, você tem que criar espaço pros novos. Se você fica refém de determinados artistas e seu público passa a não gostar deles, sua audiência vai pro saco de um dia pro outro. Às vezes apostar mais em medalhões é legal, mas tem de haver equilíbrio.

É correto dizer que São Paulo não estoura artista? Que os artistas já chegam consagrados?

De certa forma, não é errado não, isso acontece. A história ajuda a explicar. O sertanejo foi muito represado em São Paulo. Por mais que os medalhões tivessem base aqui, Zezé, Leonardo, Chitão, era difícil. Além deles, você via um pouco de espaço pra um Gian e Giovani aqui, um Rick e Renner ali… mas não existia rádio forte baseada nesse pessoal. Só que enquanto São Paulo não entrava na onda, a vida continuou nos outros estados, o sertanejo continuou sendo coisa de raiz, de família, passando de geração pra geração. Chegou um ponto em que o país tava contaminado, no bom sentido, e São Paulo não conseguiu mais segurar.

Qual foi sua aposta musical que mais deu certo, e a que você mais se equivocou ao analisar?

Hoje em dia, se você apostar 15 minutos antes você já sai muito na frente. Se comprar a ideia 15 minutos depois, o bonde já passou. Uma que eu apostei e foi bem foi “Ai se eu te pego”. A gente viu em Barretos, pouco depois do lançamento, que passava um carro atrás do outro tocando a música, sem parar. Uma que eu apostei contra e errei foi “Morango do Nordeste”, do Layrton dos Teclados. Achei ruim, mas deu no que deu.

Pra finalizar, a cobrança do ECAD te parece indevida? (escritório responsável por recolher o dinheiro referente aos direitos autorais)

A minha opinião particular é que deveria haver outras formas de cobrança, e que essas formas fossem mais democráticas. Hoje a coisa vem de cima pra baixo, uma imposição. Concordo que toda a exposição pública tenha que ser paga, mas eu acho que em vários momentos poderia ser usado um critério melhor. Hoje a forma de cobrança pode ser chamada até de injusta, tem momentos em que os valores não são compatíveis com a realidade do negócio. A rádio paga um fixo que é determinado por eles e reajustado após uma assembléia, e eu tenho que aceitar.

___

*Fotos: 1 – Fabio Nunes. 2 – Grupo Bandeirantes/Divulgação

___

A série “Bastidores” já teve outros dois entrevistados: Dudu Borges, produtor musical, e Arleyde Caldi, assessora de imprensa de Zezé di Camargo e Luciano há 21 anos. As entrevistas são publicadas no blog às segundas-feiras.

___

*O sistema de comentários do blog está passando por uma mudança, então praticamente todos os posts estão sem nenhum comentário. Os comentários não foram apagados, apenas não estão visíveis durante a mudança. Logo estarão de volta.


BASTIDORES: Entrevista com Arleyde Caldi
Comentários Comente

André Piunti

Maria Arleyde Morais Correia Caldi, 50 anos, natural de Livramento de Nossa Senhora, Bahia.

Assessora de Zezé di Camargo e Luciano desde setembro de 1991, há quase 22 anos, assumiu recentemente outro nome sertanejo que mobiliza muito a mídia: Luan Santana.

Cuida de perto, ao lado do filho Leonardo Caldi, 24, da Caldi Comunicação, empresa de assessoria criada há 6 anos e que possui as contas de Munhoz e Mariano, João Neto e Frederico, Marcos e Belutti e mais 12 artistas, que vão de Israel e Rodolffo até Rick e Renner, passando por Fred e Gustavo e Henrique e Juliano.

Ou seja, uma parcela considerável de notícias sobre duplas sertanejas que você lê por aí, sai do QG dos Caldi.

Baiana residente em São Paulo, jornalista pela Metodista, dividiu seu trabalho na Contigo! com a assessoria de Leandro e Leonardo no final dos anos 1980. Aceitou, anos mais tarde, assumir uma dupla chamada Zezé di Camargo e Luciano, que estava sendo lançada.

De lá pra cá, acompanhou a explosão do sertanejo dos anos 1990, viu seus “meninos”, como ela os chama, tornarem-se artistas número 1 no país, presenciou a exposição de toda a família Camargo, considerada por ela a “Família Real” do Brasil, vivenciou um dos sequestros mais longos do país, assistiu a uma quase-separação, e se acostumou com as declarações polêmicas da dupla.

Abaixo, a conversa que eu tive com ela.

*Fotos: Rosa Marcondes, com exceção da imagem abaixo.

___


Foto de 2001, na Cidade do México

Antes de perguntar da sua história, qual dos dois te dá mais trabalho? Zezé ou Luciano?

Ah… na realidade, não diria que eles dão trabalho. Eles são muito sinceros e assumem as declarações, então não costumam gerar problema pra mim. Eu sempre defendo que o artista ganha muitos pontos com a imprensa se ele for sincero. Por mais que acabe gerando alguma polêmica, é melhor que ele seja transparente do que tente passar uma imagem que não condiz com ele.

Você já teve alguma discussão mais dura com eles após alguma declaração?

Não, meu papel não é o de controlar o que eles falam. Eu digo que sou mãezona deles, trato como filhos, mas não sou babá. Quando eu não acho legal alguma coisa dita, eu converso, temos essa liberdade, dou minha opinião.

Você acaba sendo quase assessora da família toda, por tabela…

Eu digo que a família Camargo é a “Família Real” do Brasil, e não é brincadeira. Qualquer coisa que aconteça com algum deles, é notícia. Se a Camila (filha mais nova do Zezé) pega dengue, é notícia. Se a Wanessa machuca o pé, é notícia. Se o seu Francisco pega gripe, é notícia. Se a Zilu, que é ex-esposa, publica algo no Facebook, é notícia. Já faz muito tempo que é assim e eu nunca vi nada parecido com alguma outra família de artistas.

Profissionalmente, o sequestro do Wellington foi sua passagem mais difícil? A briga em Curitiba chegou perto?

Foram duas situações de muito estresse, mas a mais complicada foi o sequestro, sem dúvida. Eu não vou me estender no assunto porque é uma questão particular da família, você sabe que é um assunto delicado, muito pessoal. Em relação a imprensa, foi sim o momento mais complicado pelo qual eu já passei. Foram 95 dias, então a certa altura, como toda a situação exigia máximo sigilo, começaram a inventar notícias. Na TV, nas revistas, e isso foi bem complicado. Inaceitável, ainda mais vindo de veículos grandes. Uma coisa é você escrever sobre a dupla sabendo que o que está em jogo é a música dela. Outra coisa é você escrever sabendo que o que está em jogo é uma vida. Houve muita irresponsabilidade.

E em Curitiba? Depois que a poeira baixou, você considera que fez um bom trabalho?

Sim. Eu acredito que fiz sim. Não tínhamos o que esconder e não escondemos. Mantivemos o direito de privacidade do Luciano, que estava na UTI, mas não maquiamos nenhuma situação. A tensão naqueles dias foi grande. De repente, no hospital, apareceram com um tal de “gestor de crises” que queria me ensinar como lidar com a família com quem eu convivia há 20 anos. E eu tinha claro pra mim que se as ordens dele fossem aceitas, eu iria embora. Não do hospital, mas da vida da dupla. No final das contas, consegui levar da forma que nós sempre levamos. Queriam que o Zezé di Camargo entrasse escondido no hospital, e eu insisti que não. Tinha algo pra esconder? Brigaram em cima do palco, com todo mundo vendo, e agora vão querer que ele entre pelas portas do fundo? Ele entrou pela frente, falou com a imprensa e subiu.

E o que você diz aos que dizem que a história da separação era apenas uma jogada de marketing?

Que tipo de marketing? Por que seria? Só se for marketing ao contrário.

O caso de Curitiba foi só mais um que a imprensa ficou em cima. Pra você, que trabalhou em revista de celebridades, qual é o limite por essa busca de informações?

Eu não vejo limite pra informação. Sendo verdade, o que o jornalista abordar, ele tá certo. Eu posso não gostar da abordagem, da notícia, mas não vou discutir ou tentar desmenti-lo. O problema é a mentira. Mentira tem de ser combatida e eu faço isso. Ligo, peço retratação e defendo que se vá até o fim. A dupla é muito verdadeira nas entrevistas, tanto é que sempre acaba dando repercussão, então não aceito quando inventam algo.

Durante muito tempo se falou que o casamento do Zezé e da Zilu era fachada, mas ele sempre negou. Recentemente, o casamento acabou e ele declarou que a traía. Não houve uma maquiada na história?

Não, não. Eles estavam casados e dividiam o mesmo teto. Isso não é só uma palavra oficial, isso é a realidade. Quando ele decidiu se separar, foi o primeiro a falar na imprensa, e ainda disse que tinha errado com ela por quase 10 anos. De qualquer forma, ele tem o direito também de não querer expor o que acontece dentro da casa dele.

O jornalismo de celebridades te incomoda em algum momento?

De maneira nenhuma. Trabalhei anos em publicações desse perfil. Eu considero um erro excluir seu artista desse tipo de imprensa. O que muitos artistas precisam entender é que pra muitos veículos, a música dele não é tão importante quanto a vida pessoal dele, e isso tem de ser respeitado. Cada veículo tem seu interesse, seu perfil, e se o artista realmente quiser se manter em evidência e ter uma longa carreira, precisa dar valor a todos. Se você olhar os artistas que trabalham com a gente, vai ver que todos têm uma identidade nossa de trabalho, estão nos veículos mais diferentes, sem menosprezar ninguém.

Quando surge a Caldi Comunicação?

A empresa é criação do meu filho Leonardo. Ele cresceu vendo a mãe dele trabalhar no meio, aprendeu muitas coisas ainda novo. A história começou quando o Eduardo Maluf, que era empresário da Maria Cecília e Rodolfo, passou a encontrar o Léo nas festas e a dizer que me queria como assessora da dupla dele. Isso era 2008. Chegamos a marcar um encontro e eu disse ao Edu que não tinha tempo. Em meio a essas conversas é que o Léo se dispôs a abrir a empresa. Começou com Maria Cecília e Rodolfo e não parou mais.

Como funciona o escritório?

Quem toma conta é o Léo, eu sempre reitero isso, e a gente tem mais três meninas, a Karine, Dayane e a Renata. Cada uma tem sua conta, trazem clientes, enfim, é um exemplo de trabalho em grupo. Eu entro na supervisão. Tudo o que acontece passa por mim, textos, releases, ideias de pauta. Com o crescimento da empresa, o Emanuel (irmão e empresário de ZZeL) me chamou dois anos atrás e nós fizemos um acordo financeiro pra que eu também pudesse atuar na Caldi com toda a base que eu conquistei assessorando a dupla.

Ao todo, vocês cuidam de quase 20 artistas. Junto com o crescimento, ouviu-se bastante crítica em relação a ética, pegar artista dos outros e etc. Como você recebeu isso?

Olha, eu não aceito ouvir isso. Acho engraçado quando dizem isso, porque nunca bati na porta de ninguém. Jamais fui atrás de um empresário pedir pra assessorar um artista e meu filho também não faz isso. Sei que sou recomendada por algumas pessoas importantes e sou muito grata, mas é tudo fruto de muito trabalho. Acho engraçado que criticam só quando mudam pro meu escritório, não entendo o problema.

A que você deve a procura tão alta pelo escritório?

Acho que são os anos dedicados a Zezé di Camargo e Luciano aliado ao trabalho que vem sendo feito com outros artistas. Quando João Neto e Frederico chegaram pra gente, dois anos atrás e já muito bem de show e de rádio, eles jamais tinham pisado na Globo, nunca tinham entrado no Projac. No final das contas, eles fizeram até duas participações na “Cheias de Charme”. Isso é importante e as pessoas reparam.

Você se tornou assessora do Luan Santana há poucos dias. Sua primeira ação foi a capa da Contigo! com ele e a namorada. Comenta-se que o intuito da matéria é mudar a imagem dele pra um artista mais adulto. Foi essa sua intenção?

Ali foi um trabalho discutido em equipe. Luan não tá namorando? Não sai com a moça, não janta com a moça, não leva a moça nos shows? Então qual é o problema de sair na capa da revista? A matéria ficou ótima, deu uma repercussão positiva e foi verdadeira, o que é o melhor de tudo.

E aquela ideia de que o artista não deve dizer que namora pra manter a ilusão das fãs?

Isso não existe mais faz tempo. Você entra na internet e vê foto que as fãs tiram, vê que elas trocam informação, não tem segredo. Essa estratégia se usou muito lá atrás, hoje não faz sentido.

Encerrando com o que deveria ser a abertura, como é que você foi virar assessora de dupla sertaneja?

Eu tinha passado pela Folha de S.Paulo, Folha da Tarde, e estava na Contigo!. O Fabio Lizzi e o Franco Scornavacca (empresários) queriam uma assessora de imprensa pro Leandro e Leonardo que tivesse alguma proximidade com televisão. Como eu cobria TV, ele me convidou e eu fiquei alguns anos fazendo frila. Quando Zezé di Camargo e Luciano foram pro escritório, ele me fez outra proposta. Nessa época, eu tinha férias pra cumprir e fui pra Bahia. Cheguei lá e ouvi “É o amor” em Salvador, mas ninguém fazia ideia de quem cantava. Voltei e aceitei o trabalho. Isso foi em setembro de 1991. Cheguei a me afastar 8 meses por questão de saúde do meu caçula, mas voltei logo depois. E estou aqui até hoje.

___

A série de entrevistas “Bastidores” começou na semana passada e irá ao ar toda segunda-feira. Quem não leu a primeira entrevista da série, publicada na semana passada, pode clicar aqui. O entrevistado foi o produtor Dudu Borges.

___

*O sistema de comentários do blog está passando por uma mudança, então praticamente todos os posts estão sem nenhum comentário. Os comentários não foram apagados, apenas não estão visíveis durante a mudança. Logo estarão de volta.


BASTIDORES: Entrevista com Dudu Borges
Comentários Comente

André Piunti

Dou início hoje, aqui no blog, a uma série de entrevistas chamada “Bastidores”, com figuras importantes e influentes da música sertaneja que nem sempre se tornam conhecidas do grande público.

São produtores, assessores, empresários e contratantes contando um pouco de sua história e de sua importância para o atual estágio do sertanejo. Toda segunda-feira haverá uma nova entrevista.

Hoje, na estreia, a entrevista é com o produtor musical Dudu Borges.

___

Eduardo Borges de Souza, 30 anos, campograndense.

Conhecido como Dudu Borges, o produtor deixou o Mato Grosso do Sul e se mudou para São Paulo aos 17 anos, atrás de música. Cresceu musicalmente na igreja, virou nome respeitado no mercado gospel, e se tornou produtor e músico da banda “Resgate”.

Dudu é o principal produtor sertanejo da atualidade. Em suas mãos, atualmente, estão Bruno e Marrone, Jorge e Mateus, Michel Teló, Luan Santana, Fernando e Sorocaba, João Bosco e Vinícius, Marcos e Belutti, entre vários outros, todos produzidos em seu estúdio fundado em 2009 em São Paulo, o “VIP”.

Na lista publicada semanalmente no blog com as canções sertanejas mais tocadas, ele chega a dominar quase metade das posições. No ranking divulgado hoje, na postagem anterior, das cinco primeiras canções, quatro são produções suas: “Te Esperando”, “Vidro Fumê”, “Amiga da Minha Irmã” e “Veneno”.

A carreira bem sucedida, no entanto, encontra resistência dentro mesmo do meio sertanejo. Considerado o principal responsável por ter tornado a música sertaneja em música pop, ouve duras e repetidas críticas de quem não considera que sua linha possa ser chamada de “sertaneja”.

Abaixo, a conversa que tive com ele.

___

Você se reconhece como o cara que criou essa fase atual do sertanejo?

Quando eu produzi João Bosco e Vinícius pela primeira vez, no final de 2000, eu não tinha noção do que poderia acontecer. Eu fiz o que achei que tinha de ser feito, mas sem imaginar que aquilo poderia mudar o rumo das coisas. Eu sei que eu mudei a música sertaneja, mudei todo um estilo, mas foi tudo feito sem essa pretensão.

Pega João Bosco e Vinícius e vê o que vem depois disso. Ali foi a mudança, com “Sufoco”, “Chora, me liga”, “Falando Sério”. Veja o que veio depois, de Luan Santana até qualquer outro artista. Começou ali. Não existia uma música com tanta virada de bateria, com tanta conversão, com tanto detalhe quanto “Sufoco”. E ao mesmo tempo soava seco, sem muitos instrumentos. Até ali, ninguém tinha feito isso.

Não demorou muito pra que as críticas surgissem, principalmente na linha de que você estava estragando o sertanejo…

Sim, não demorou nada. Hoje eu não me incomodo sinceramente com crítica, mas aprendi depois de apanhar muito. O que incomoda é a falsa crítica, o cara que fala mal de você, mas vai lá e faz o arranjo igual. O difícil da crítica no começo é você ver tudo o que você está conquistando, o que você está acertando, e ter de ouvir coisas contrárias. Mas é do jogo.

Quando você chegou a conclusão de que havia deixado de ser um produtor promissor pra se tornar uma grife, uma figura relevante?

Quando as pessoas que eu sempre admirei passaram a me respeitar. E no fim, é isso que importa. Olha só… eu receber uma ligação do Bruno e Marrone, depois de tudo que falaram que eu estraguei o sertanejo, é uma coisa inexplicável. Você percebe que não tava errado naquilo que fez. Nomes indiscutíveis da história da música, caras que vão ser lembrados pra sempre, me procurando pra fazer um trabalho novo e a gente conseguindo fazer mudanças importantes na dupla. Isso me fez me sentir melhor.

Com o tanto de artistas de primeiro escalão que você produz atualmente, é inevitável que você fique em meio a um fogo cruzado entre escritórios e entre cantores que não têm boa relação ou até mesmo uma concorrência mais acirrada. Como você lida?

Eu tento ser imparcial, mas não sou… assim… tudo o que eu puder fazer pra unir todos e deixar as coisas em paz, eu tento fazer. Na hora certa, no momento certo, eu vou lá e tento. Quem mexe com música, na maior parte dos casos, têm os sentimentos muito aflorados, então nem sempre é fácil. E muitas vezes os “grandes problemas” são coisas tão pequenas que passa o tempo e eles se esquecem. Pode parecer só algo bonito, mas não é: a música é capaz de juntar todo mundo. É através dela que eu vou sempre tentar unir, acho importante isso, e costuma funcionar.

Você tem uma marca forte nas suas produções, deixa sua assinatura nos seus trabalhos. Produzindo tanta gente de repercussão, não corre o risco de os produtos começarem a ficar muito parecidos?

Eu tenho que saber que eu preciso dar a cara do artista ao disco dele, e não a minha cara. Eu me inspiro no cantor ou na dupla pra que o trabalho fique parecido com ele, não comigo. A partir daí é que eu começo a fazer o meu trabalho.

Mas e suas preferências de timbre, músicos, ritmos? Não há um risco de ficar tudo meio padrão?

Sim, é um risco que precisa de cuidado, tenho que pensar nos outros discos que já fiz pra não repetir algumas coisas, mas não é algo tão complicado dessa forma. Há muitos artistas que tocam, como o Mateus (Jorge) e o Fernando (Sorocaba), então cada um já tem uma personalidade traçada.

Você é difícil na hora da produção? Costuma ceder?

Acho que isso passa pela relação que você tem com o artista. Nós estamos juntos pra fazer o melhor trabalho possível, então os dois precisam saber ouvir, eu tenho essa consciência. Não sou de levantar a voz, brigar, não faço isso, mas se o cara quiser um produtor só pra fazer o que ele manda, eu não sou esse cara. Eu sei que se der errado, a culpa vai ser minha, então eu preciso puxar essa responsabilidade.

Você já gravou algo que se arrepende?

Já. Não a ponto de me arrepender amargamente, algo que vai manchar minha carreira, mas já abri exceções que não foram legais.

Sabe-se que você é o produtor mais caro do mercado atualmente (ele preferiu não abrir os valores na entrevista), algo natural pelo espaço que você conquistou. Como é essa sua relação financeira com os artistas?

Eu uso a boa relação com os artistas e os empresários pra lidar com essa situação. Não há só uma forma de você receber, você pode receber na venda dos CD’s, você pode receber algum adiantamento, pode procurar várias formas. Eu me preocupo com o outro lado também. Sei que apesar dos cachês altos, há muita conta a se pagar.

Hoje consigo sentar com uma dupla ainda no começo, disposta a pagar mais até do que eu pediria, e dizer pra eles não gastarem esse dinheiro assim. Os valores mais altos acabam sendo com os artistas do topo. Não é que eu cobre de acordo com o que eu sei que o cara ganha, não é isso, mas é o quanto um trabalho de tanta repercussão não me consome. Eu me doo o máximo ao projeto e assumo toda a responsabilidade de cada trabalho, e isso tem um preço.

Tem uma coisa interessante de contar. Eu produzo música uma atrás da outra há anos, sem parar. O reconhecimento demora muito, é uma estrada muito longa. Um hit não muda sua vida, dois, três não mudam. Um disco bom também não muda, você precisa fazer outro, e outro. Eu vim pra São Paulo com 17 anos e fui ganhar dinheiro 2, 3 anos atrás.

Uma das suas parcerias que mais repercutiu foi com Jorge e Mateus, talvez a que mais tenha gerado discussões até hoje. A dupla chegou já grande ao seu estúdio, e você apostou em uma mudança forte no estilo da dupla. Como foi essa passagem?

Quando a gente começou a trabalhar junto, foi uma época bem difícil pra mim. Você ler todos os dias que você não vai superar um disco sendo que você não teve chance ainda de fazer sequer uma nota do novo trabalho, é difícil, incomoda. Eu arrisquei o que eu podia e dei minha vida nesse disco (Aí Já Era). Eu tinha certeza que seria um disco que ou daria muito certo, ou daria muito errado. Ninguém sabia o que iria acontecer, apesar de eu saber que era bonito, muito bem feito. Eu mexi no jeito do Jorge de cantar, eu ganhei o respeito do Mateus e eles comparam a ideia de arriscar.

Faz pouco tempo, até, ouvi uma pessoa próxima dizer que o que eu fazia não era a cara do Jorge e Mateus. Mais uma vez, tive que ouvir e fiquei quieto, mas me incomodou. Hoje, com essa popularidade, com esses números, com essa carreira impressionante, eu não tenho dúvidas que a cara do Jorge e Mateus é a do “Aí Já Era” pra cá.

É o seu melhor disco?

Não. Sem demagogia, não consigo enxergar um melhor disco. Só pra te dar um exemplo, eu sinto o “A Hora é Agora” melhor que ele. Aliás, como eu vou comparar um disco com o “Curtição”, com tudo que ele representou? Cada caso é um caso, sem demagogia, não teria problema em dizer se houvesse mesmo algum.

Sinceramente, pra ficar no Jorge, eu acho o “A Hora é Agora” mais completo, mais maduro. A diferença é que o “Aí Já Era” tinha o fator novidade, que faz com que as pessoas falem dele até hoje.

A certa altura da ascensão do novo sertanejo, o mercado se viu liderado por dois produtores: você e o Ivan Miyazato, além de uma série de músicos oriundos de Campo Grande. O que essa turma tinha de tão especial pra chegar tão longe?

Eu não sei, cara. Eu não sei explicar. Parece meio gospel o que eu vou dizer, mas eu acho que Deus escolheu as pessoas que estavam lá em Campo Grande e que eram amigos. Todo mundo que tava lá e deu certo, trabalhou junto em algum momento. Havia alguma química musical e as peças foram se encaixando.

Você prevê uma queda forte do sertanejo para os próximos anos? Concorda que o estilo tomou um rumo não muito positivo?

Não, não tem porque ser assim. Há muito o que se fazer, mas é preciso ser feito. O sertanejo é muito amplo, muito democrático. As rádios sertanejas tão lá no alto, muitas baseadas no romântico, as festas estão em alta, com as músicas de balada, e a galera que ouve modão nunca vai ficar sem os modões.

A gente tá num momento em que precisa surgir uma novidade, que não é necessariamente algo que vai chocar ou mudar tudo, mas que precisa se mostrar diferente. E o meu grande desafio e de quem trabalha com música é conseguir achar essas novidades sem fugir do sertanejo, pois aí você erra. Eu tenho a chance e a oportunidade de apresentar coisas novas, e é isso que tento fazer a cada novo trabalho.

Pra finalizar, queria que você falasse de Michel e “Ai Se Eu Te Pego”.

O que eu posso te dizer sobre o Michel, resumindo, é que tudo o que aconteceu com ele, a gente só foi assimilar há pouco tempo. Eu e ele só tivemos a dimensão do que ele conquistou quando a gente sentiu o que estava acontecendo com o Psy. É difícil olhar quando você está de dentro, você não tem ideia das coisas.

Quando o Psy estourou no mundo e a gente viu de fora, deu pra cair a ficha do que o Michel tinha conquistado. O estouro “Ai Se Eu Te Pego” lá fora não mudou minha vida profissionalmente, mas gerou uma marca que eu vou levar pro resto da minha vida, um número que dificilmente alguém vai atingir de novo. Por muito tempo eu vou fazer parte da música brasileira, e eu agradeço muito a Deus por isso.

*Fotos: Olivio Netto

___

*O sistema de comentários do blog está passando por uma mudança, então praticamente todos os posts estão sem nenhum comentário. Os comentários não foram apagados, apenas não estão visíveis durante a mudança. Logo estarão de volta.


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>